quinta-feira, 24 de agosto de 2017

alcachovas

O encontro daqui alguns dias já me tira o sono. Irei até você, doce e cativa que estou. Nesse processo, imagino sua voz retumbando na sala de conferência, todos os olhos fixos em você. Como você reagirá? Com timidez, suponho, até ter confiança no que está a dizer. Afinal, são três anos caminhados até aquele momento. E como eu reagirei? Olharei com olhos amorosos ou indiferentes? Falarei com você durante o intervalo? Creio que abaixarei minha cabeça e receberei as palavras que falará como profecia e, enquanto todos baterem palmas, direi "amém". Não irei ao seu encontro. Talvez suba e pegue um café, volte e me sente, mas não olharei em seus olhos, não sorrirei de amor, porque esse frio me fez ver algo novo: se eu retirar o que imaginei de sobre você, você não existirá. E é isso que faço agora: te dispo das minhas fantasias e vejo seu frágil corpo em pêlo. Não cuspo mais rancor e ódio ao pronunciar seu nome, me vem só a tristeza. O frio assopra a fina poeira do meu sentimento, deixando-o mais racional, deixando-me mais atenciosa ao que antes não conseguia ver. A cada outra lufada, percebo momentos novos, retiro os filtros de ilusão, dolorosamente colocados por mim para justificar tal entrega sem motivo. Retiro cada um deles, é difícil te ver como você é e fico com a leve impressão de que aquilo que vejo não é você, mas outra criação minha. Chego mesmo a me questionar se te conheci, se não foi tudo uma fuga elaborada da realidade que me espanca rotineiramente. Se você é criação minha, então jamais saberei dizer de onde tirei o cheiro de tua pele, o tom de tua voz ou a textura de teus cabelos. Sinto somente sua mente tocando meu corpo e eu sem querer saber que horas são. Eu me despetalo para ver a essência do que te fiz, pois sei ser "através" o melhor caminho. Algumas pendências ainda me atribulam: como andar sem ter você no canto dos olhos, o que ouvir nos trajetos do ônibus, como me entregar para o próximo a tocar meu coração, como sorrir, comer, dormir, tomar banho, se em tudo tenho lembranças com você. Fica clara a necessidade de um brilho eterno de uma mente sem lembranças. Eu escolher te esquecer e assim ser feito, mas sempre fica aquele pedaço ínfimo dizendo em meus sonhos "meet me in Mountauk". Não sei o que serei, nem como me reerguerei, mas não posso mais sofrer por você, te amar incondicionalmente enquanto você se esquece de mim. Não é justo, nem são, nem feliz (muito menos feliz). 

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