quarta-feira, 16 de julho de 2014

Rapidinhas

Há sempre despedidas no que escrevo.
Adeus, mim.

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Entendo, meio assustada, como fiquei distante. Você me pedindo atenção e eu olhando outras meninas, que nem ao menos me olhavam. Mas seu pedido me doi a mente, cansando-me de falar as mesmas coisas sempre, e eu sempre aceito seus pedidos para sair. O mesmo bar, o mesmo garçom, o mesmo tipo de música. Uma garrafa na mesa dois copos vazios enchendo duas mentes insanas de realidade. Eu vi o jeito que você a olhou: com admiração. Quis morrer de ciume, quase enlouqueci, mas depois percebi que nosso encontro na vida já deveria ter acabado há dois anos, ou nem sequer existido. Sorte minha então, já que, graças à você, conheci bandas boas e autores magníficos. Sem adeus dessa vez, já chega de adeus. Você fica!

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B. me perguntou por que me apaixonei por você, e não por ele. Ontem descobri a resposta: quando fui encontrá-lo na livraria, fiz todo o esforço de que sou capaz para não prestar atenção em você. Eu sabia que era furada, que você não é do tipo que ama e se entrega, você atropela e some no meio da noite (classifieds will never show what the aces do to the queen of hearts ), não queria isso. Mas B. me indicou você, por isso te vejo pelos olhos dele, por isso fiquei. Porque, também, era sempre você nos meus sonhos de menina-moça.

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O axé que tenho não foi meu pai que me deu. Fui eu mesma. Roubei. Tomei à força. Praguejei. Ralei o joelho. Sai pela porta da frente. Sou minha, sou anjo e sou mulher.

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Nos postes do meu quarto vejo a luz que não se acende. Permaneço aqui, no escuro, respirando calma e deliciosamente.

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Ele se vestiu, na desculpa da fragilidade humana se perdoou o medo e o prazer. Sua blusa ainda aquecida com um calor estrangeiro, bandeira hasteada sobre seu corpo nu, deitado na cama. A estrangeira não falava, apenas sorria dos sons mais extravagantes impossíveis. Seios de silicone podem ser apertados como quaisquer outros. Em cada botão uma desculpa para partir o mais rápido possível e ela nua. Um vestido assim é fácil de pôr, nem ao menos usa sutiã, essa mulher. Se foram. Ela para o aeroporto, ele para o restaurante onde sua esposa o esperava com o cachorro.

Ela não falava, os botões da sua blusa deixavam ver o sutiã de renda preto. A fragilidade do prazer humano. Ela sorria pelos seios de silicone, bandeira frágil sobre si. Não escolhera um vestido pela facilidade de tirá-lo, queria dar-lhe o prazer mínimo do primeiro desejo. Extravagâncias impossíveis. Ao vê-lo entrar no restaurante, bebeu num gole só o uísque que pedira e sorriu.

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