terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Dois cegos no mesmo caminho

Meu pêndulo oscila entre amor eterno amor e desinteresse glacial. Você diz que me ama, mas não acredito, assim como não acredito que, um dia, você colocará limite nas pessoas que te cercam. Aliás, você colocou limite em mim, me tirou do seu cotidiano e me relegou a algumas horas de jogos em silêncio e sexo rápido, sem me deixar gozar em nenhuma das situações. A cada dia me entristeço mais, deixo de me importar, de correr atrás, de ser quem eu sou para não machucar seu frágil ego masculino. Ao pensar em te ver, entretanto, nasce em meu coração uma euforia antiga de manhã de Natal. Ao te ver, percebo que você não mudou em nada, a euforia passa e me deixa um gosto amargo na boca, como ganhar o presente que não pedi. Mesmo assim insisto em dizer que te amo, para me convencer talvez? Não sei mais... Você, que me dá aquilo que não peço, que me oferece uma vida que não sei viver e que me abraça quando mais me sinto sozinha, você me machuca tão docemente ao passar o final de semana sem me ver ou me convidar para te ver, você retirou de mim todos os sonhos que nutri sobre a gente e agora aparece aqui em casa quase toda noite. Eu não te entendo! Enquanto me afasto para proteger meu coração do golpe inevitável, decido que não é minha função te decifrar, que não te dou mais o poder de me deixar esperando uma mensagem, que serei para você o que você quer ser para mim: um passatempo. Enquanto me afasto para sonhar momentos novos, você vive seu faz-de-conta com minhas antigas juras de amor e não me vê indo embora.
Talvez você julgue que estou te dando o espaço que você precisa, talvez eu devesse me afastar mesmo. Eu entendo e me afasto. Aceito o que me oferece, mas não é o suficiente para mim. Preciso de mais, mais afeto durante o dia, de mais reciprocidade na entrega, de mais borboletas no estômago. Vejo o amor que sinto morrer por inanição, eu o nutro como melhor consigo, mas tem sempre as suas mãos fechando-lhe a boca e impedindo-o de se alimentar, você e sua recusa em se doar um pouco, também. Desfaleço junto com o amor que nos norteia e, mais uma vez, você não percebe, ou finge que não percebe, e isso é o que doi mais.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O que é isso mesmo que estou tramando?

Estamos arriscando tudo novamente. O que nos faz pensar que desta vez será diferente, que não nos magoaremos nem nos feriremos mortalmente? Nunca fui tão adulta e jamais senti esse medo. Se der errado, não sei se me colocarei de pé. Aposto todas as fichas, pois minha vida depende da vitória. O amor, tão declarado antes, gritado a plenos pulmões, se tornou a base de conversas sóbrias e partidas de baralho. O amor está aqui, metamorfoseado no calor das cobertas, no café com pão de queijo aos domingos, nos abraços apertados sem motivo aparente. Conversamos sobre as situações que precisamos melhorar e, por alguns milésimos de segundo, me percebi numa transação política, com uma agenda definida e relações bem estabelecidas. Cadê o fogo da paixão? Onde foram parar os sonhos? Com a dúvida vem o medo de não conseguir me comunicar com ele e ir buscar isso do lado de fora de "nós", como já fiz. Com a dúvida o peso das responsabilidades futuras massacra o frágil amor, que se esconde nos detalhes do cotidiano. Conseguirei? Provavelmente não. Provavelmente ficarei deitada no chão olhando estrelas entre lágrimas, dores profundas, sonhos despedaçados, eu dilacerada e sozinha por muito tempo até conseguir ficar de pé novamente. Isto é, isso se eu não decidir chamar esse novo lugar de Lar e decidir ficar lá até meu último suspiro. Não terei força, não quero ter força, já fui forte por tanto tempo que me cansei irremediavelmente. 
Mas estou sendo negativa. Tudo pode dar certo entre nós e, feliz, me tornarei radiante. Não posso me esquecer de quem sou. Sou escorpiana, faço meus rituais de lua Nova e cheia, adoro Caetano e Tim Bernardes, voltei para o ballet, tomo cerveja e vou ao carnaval. Não posso me esquecer, não posso! Eu aprendi a me amar aos poucos, nos detalhes das minhas mãos e nas linhas de meu rosto. Que este post seja meu registro pessoal de que não devo me apagar para fazer um relacionamento abusivo dar certo.
Deus me ajude!

sábado, 18 de janeiro de 2020

2020 se inicia

Lavo meus cabelos quase todos os dias agora. O barulho da água me hipnotiza o suficiente para  esquecer. Distancio minha nova rotina da  antiga que  criei com  você. Aprendi a assar meu próprio pão,  a desenhar meus  pesadelos, a colorir mandalas, tudo isso  para a sua falta não me sufocar. Enquanto a  água do  chuveiro  cai, ensaboo   meu corpo  e percebo pouco a pouco o projeto da nossa  antiga casa desenhado no box do banheiro. Choro  um pouco, encostada na parede, antes  de  decidir  qual  outra  rotina  de  autocuidado  vou iniciar. Você se  foi. Levou consigo a nossa voz,  nossos olhares e  meus  melhores  sorrisos.  Vai levar um  tempo pra fechar o que feriu  por dentro, é  natural...  Lavo meus  cabelos, porque assim o  banho se   estende  minutos  à dentro  e eu  não  sofro tanto, porque  quero  tirar o seus  dedos  da   minha  pele,  arrancando a pele  se  preciso,  porque observo com calma meu  corpo e cuido de  mim.