sexta-feira, 25 de maio de 2018

As trilha sonoras do cotidiano

Não sei a quem endereço essa postagem. Diu não cabe mais no destinatário. Não tenho mais palavras para dizer-lhe, Diu. Acontece delicadamente o que temia: Diu se esvai. Era o trajeto, pela companhia, o anel rodoviário por fora da dor, Neverland ou um sonho. As influências ficaram e se somaram ao que eu já construíra. Escuto mais do que minha própria voz quando canto, rio, suspiro, converso, calo. Vejo mais do que meus próprios olhos quando miro o espelho - sei que a dureza e a compreensão que não exige vieram dele. Ainda não consigo ouvir Amarante, mas, um dia, Cavalo voltará à minha playlist. Não posso te obrigar a ficar, não quero te convencer de que seria legal. The Smiths estouram as caixas de som, gritando o que eu gostaria de ouvir, por me lembrar ele: "but you know where you came from, you know where you are going and you know where you belong. You said I was ill and you were not wrong. But I can't believe that you'd ever care, and so, you will never care... Oh, the alcoholic afternoons when we sat in your rooms they meant more to me than any living thing on earth... you will leave me behind!"
O destinatário talvez seja meu self futuro, um pouco mais triste e centrado. 
O frio está entrando pelas frestas das portas e janelas, o vento da mudança. Ignorei-o por tantos anos e não consigo mais. Algo me incomoda. O que será? A solidão não foi uma escolha. Escolhi a via errada para construir meus relacionamentos. Sei transar, mas não consigo me interessar pela vida das pessoas que se deitam ao meu lado. Que erro ingênuo o meu! Achar que esse mau hábito afastaria a solidão, daria sentido a alguma parte escura da minha vida. Pendulo entre o medo da solidão dos livros e o desgaste de me tornar as pessoas que frequento (desgaste maior de me des-tornar-las). Foi legal me tornar Diu e não quero des-tornar-me. Carrego com orgulho as partes dele que ficaram, elas iluminam aonde devo pisar depois. Enxergo-me melhor com as luzes dele em mim. No que me tornarei daqui para frente? Recairei no silêncio da ausência de Diu e telefonarei? Espero o futuro chegar para eu saber ao certo. Até lá, fico com meus livros e a compreensão que deles recebo. 
Deveria ter sido Bruno, não Diu.