sexta-feira, 22 de junho de 2012

Trechos

Aquilo que diz minha mãe ecoa: Triste não é ir à festa, é chegar no portão e não conseguir entrar.

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Penso ser uma gaiola em terra de ninhos. Minhas mãos que julgava delicadas agarram e fazem sangrar como espinhos. De todos os tipos de doce sou feita, para no fim assar os ingênuos sabiás que em mim vem comer, engordo-os e tranco-os, mas depois, sobre seus ossos, choro minha tristeza de gaiola por mim há muito abandonada...
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Da boca do leão tiro o doce que me mata. Fica em osso o meu braço amaldiçoado.
                                                                             
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E quando reparo em mim, me vejo poço de inveja a consumir-se o tempo escasso e a mente gorda. Não, nem todos causam tanto mal, há alguns apenas que me forçam ao encontro inventado e escondido, sem paz nem vela nem choro. A estes, vivo morrendo a cada instante de ausência absoluta. E qual ausência não a é? Dos meus suspiros frios, sempre remanesce uma pena daquele que se foi; dos olhos suspeitos, há o pavor de que o mesmo mal me escape outra vez - deve ser lutada e vencida esta batalha. E este carinho todo que lhe escorre pelos dedos, almejando o toque e não a quem? Foi o que sobrou. Foi o que de bom sobrou daqueles outros que tanto mal não me causaram: esta necessidade de acarinhar e proteger, sempre, quem ao meu lado se põe de guarda.

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Qualquer hora dessas apareço aí pra tomarmos umas stellas e contarmos de uma vez por todas quantas estrelas restaram no nosso olhar!
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Abraço bom mesmo não é aquele que te deixa sem ar e te aperta, aperta, aperta... Bom mesmo é aquele abraço que, ao final, você já não consegue lembrar como foi que começou, quem pôs as mãos aonde, é aquele que te faz fechar os olhos instintivamente, como que para ver a realidade e mais do que ver, sentir.. É aquele abraço que compartilha medos e sonhos, de ambos!, por que não?, é abraço sem reservas, sem preconceito, sem mim e sem você. No momento do abraço, somos um eternamente.
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Daqui de onde estou vejo você. Algumas lágrimas me atrapalham um pouco, mas ainda ouço sua voz, será mesmo a sua voz?, me dizendo: "eu e ela não temos nada, quer ver? Vou ligar pra ela... Oi, gostosa, como foi nossa noite, você gostou?" e eu corria e chorava e corria chorando. Teria sido você quem me disse "estou onde muito homem gostaria de estar, não estou incomodado, juro." e eu já não me lembro mais se era de alegria ou de melancolia que chorei. Foi você? Foi você que conversou comigo até eu chegar em casa? Foi você que me telefonou de manhã cedo me lembrando do remédio? Quem foi que me deu uma flor? E em quem eu segurei quando ia atravessar a pista? Já não me lembro.. fiz mesmo tudo isso? Havia mesmo pessoas comigo em todos esses momentos? Por que tudo é borrão se o gosto do amrgo permanece na garganta? Aqui onde estou, e onde estou?, sofro.

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