domingo, 24 de julho de 2016

outra vez sonhei contigo

Li no Face que você se aventuraria novamente pelo mundo. Fotos de seus pertences e uma breve frase de "até logo" foram suficientes para eu deixar crescer a erva daninha que embeleza, mas arruína meu escasso jardim. O dito chinês sobre o que foi vivido com a pessoa não ser o problema, mas os planos futuros nunca realizados, que florescem livremente na imaginação fértil de quem amou mais, estes, sim, são o problema. São as ilusões, as conversas fictícias, as juras não feitas. Eu estava quase  lá, à beira do portão no intuito de fechá-lo para não mais voltar, no gesto incompleto, quando soube de sua nova viagem, quando me descuidei e olhei para trás. Lá estava ela, a erva daninha, as raízes de baobás a ornamentar e destruir. E sonhei contigo. Tão real e frio, como me lembro. Eu trabalhando no Jardim Botânico e você mero visitante, tudo vendo e tocando, mas nada entendendo. Meus olhos atentos na terra que volvia para melhor plantar a sequoia que trazia comigo foram atraídos por uma mancha preta que se moveu para mais perto de mim. Enquanto levantava a cabeça, lembrei de suas blusas e te vi, na minha frente, segurando sua namorada pela mão. A troca de olhares foi rápida e afiada, voltei a olhar para baixo enquanto secava uma ou duas lágrimas que escorreram. Ela veio me perguntar alguma coisa que respondi educadamente. Lembro de correr para longe e desmoronar apoiada num pinheiro. A noite teve uma festa e, enquanto servia as bebidas te vi chegar. Todo o meu esforço para não te encontrar, não te perceber ou, pelo menos, não te dirigir a palavra, foi inútil ao sentir percorrer por meu corpo um leve arrepio segundos antes de você entrar. Eu me entreguei à doce sensação de êxtase. Vocês dançaram e riram madrugada a dentro e eu fui embora. Já no outro dia, senti suas mãos me segurando pelos ombros e sua voz nervosa a me dizer que precisávamos ir embora agora, você não parava de falar e me puxava para andar rápido. Fora de casa, eu parei e olhei para o ceu e foi neste momento que vivi a experiência mais linda de todos os meus sonhos: estrelas cadentes se chocavam e formavam mandalas em chamas. Você percebeu que eu não estava te seguindo e voltou brigando e gesticulando mais e mais, mas foram uma, duas, três colisões com mandalas. Eu apontei para o ceu e, finalmente, você se calou. Paz. Silêncio. Na quarta vez os destroços da explosão vieram em nossa direção, bem na nossa frente e, quando passou por mim, acompanhei a trajetória e uma enorme rocha flamejante foi na sua direção. Não consegui gritar para que você se abaixasse, mas dentro, bem dentro de mim, pedi a Deus: "não morre! Não morre, por favor!". Você se abaixou e nada aconteceu. Enquanto você vinha na minha direção, me disse sério: uma dessas rochas acertou a casa de minha mãe, me ajude a encontrá-la. Corremos, corremos por entre árvores e rochas, queimei a mão e você machucou o pé, mas chegamos. Lembro-me de ter perguntado o nome dela e sua voz trêmula, mas imponente disse: "Leninha". Nos separamos para encontrá-la. Ela dormia calmamente em seu quarto, quando a acordei e pedi para que arrumasse uma bolsa com coisas importantes. Você chegou e a abraçou, aliviado. E eu pude sorrir. Mas então, lembrei de minha mãe e que ela poderia não ter tido a mesma sorte que Leninha. Te pedi para irmos lá, ver se estava tudo bem, mas você me olhou como se não me conhecesse, segurou sua mãe pela mão e foi embora.
Acordei com aquele velho sentimento de sempre quando nossos encontros chegam ao fim: impotência, tristeza, culpa. Não consegui ir ver minha mãe, saber se morreu ou se estava dormindo tranquilamente. Quis viver uma aventura com você e a tive. Mas te conheço bem para saber que nunca demonstraria nada, nada diria que deixasse entrever seu caráter humano.
Entretanto, tenho a chuva de meteoros e suas estrelas cadentes com contornos de mandalas para me lembrar dos momentos únicos que vivi com você, para curar-me das feridas. Não te direi que fechei o portão, talvez nunca consiga, talvez sempre carregue comigo um sonho a dois a ser vivido com você, somente. Porque você é Diu. E quando B. me perguntou se você era/ é o meu grande amor, disse que nunca saberei de amar como você precisa e, num gesto desolado perguntei a ele: "você sabe como é desesperador amar alguém e não saber amar?!"