quinta-feira, 23 de julho de 2015

Foi assim...

Estava sem nada para fazer. Trabalharia só daqui a dois dias. A cerveja tinha acabado e minha mãe, viajando, voltaria na próxima terça. O celular tocou. Uma pessoa me salvaria daquele tédio? Vi quem era. Não, não salvaria, mas, pelo menos, era uma boa companhia. "Em dez minutos chego aí." Vesti as mesmas roupas de ontem: uma bermuda e minha boa e velha camiseta. Achei que esperaria mais de dez minutos em frente ao seu portão. Ela abre a porta. Short jeans, camiseta branca e havaianas. Não a levarei para comer fora. 
Chegamos na minha casa just in time, como dizia minha professora de inglês. Hannibal começaria em cinco minutos. Ofereci água. Ela levanta a cabeça para beber os últimos goles. Está mais gorda do que a última vez que saímos. Ela me olha e sei exatamente o que quer. Sexo. Sem carinho, sem rodeios. Ela quer que eu tire sua roupa e que a beije. Penso duas vezes. Ligo a TV. Lá está a abertura da série. Aquele sangue-vinho-sobremesa que assisto sadicamente. Peço para ela se deitar atrás de mim no sofá. Sua mão segura minha cintura. Perdi a conta de quantos episódios assistimos.
Me incomoda o fato da sua subserviência. O que mais ela espera de mim? Troco de posição. Deito com a cabeça nos seus pés. Ela me agarra as pernas. Fito-a demoradamente. Ela assiste com uma concentração quase infantil, bestial. Dá um meio sorriso. Acho que já descobriu o desfecho do episódio e já não quer mais  prestar atenção. Nos olhamos, ou melhor, nos encaramos, até meus olhos arderem. Passo a mão pelas suas penas. Ela corresponde ao gesto. 
Já sem short e de sutiã, tiro minha blusa. Olho suas pernas, sua respiração. Não existe ali excitação. A vontade é ilusória. Me pego pensando tantas coisas, mil coisas, nas outras garotas, no que deixei para trás, nas compras que tenho que fazer antes da minha mãe voltar. Quando volto a mim, dois olhos vorazes, mas dúbios, me encaram. Quanto tempo fiquei ausente? A beijo ainda sem vontade. Se era aquilo que queria, por mim tudo bem. Do sofá da sala fomos para o quarto. 
Acho que não me faço claro. Ela não deve mais voltar. Não a desejo mais. Ao mesmo tempo, seu sangue me ajudaria a preparar o melhor molho pardo do mundo para agradar minha mãe.
Deixo-a em casa. Aparentemente ela não dorme com ninguém ao seu lado. Durante a despedida, um olhar deixado para trás... Um olhar dela me faz pensar em..., será?! Impossível! Mulheres como ela jamais amam a outros senão elas mesmas. Ou quem faz isso sou eu?