domingo, 30 de dezembro de 2012

Chamo sua atenção com gargalhadas descabidas, você ri e se pergunta "o que  foi mesmo que eu fiz?", não há resposta, porque sou eu isso que enche de barulho a casa e que te deixa meio assim-sei-lá... Chamo seu nome, às vezes, quando quero colocar a culpa em alguém, mesmo quando você não está presente ou quando eu não estou presente, afinal, a culpa é sua. Ontem, foi divertido. Comi muuuitoo e rimos à beça. Teve um momento, entretanto, em que pensei que ficaria triste para sempre, porque estava tudo tão perfeito que só poderia ser mentira. Mas, sabe, eu senti um abraço forte, já não era medo, era uma coisa sua que ficou em mim e tudo bem! Porque sei o quero: quero te fazer feliz; quero passar a mão nos seus cabelos até você dormir. E de repente, não preciso mais chamar sua atenção, porque os seus olhos estão grudados em minha pele e por ela escorregam.
Segure minha mão, porque a vida doi tanto e minha voz não sai. Segure firme para termos um ao outro no momento da queda imaginada, da dor que se suplanta ao sol e à verdade, à própria dor. Sei que seremos assim pelo tempo que quisermos, pela eternidade que durar esse momento quente e úmido. "Para sempre...", me sussurra a menina enjoativamente doce que me mora.
Li assim, uma vez: " E eu tô aqui, sabe? Pra conversar, brigar, rir, fazer loucuras. Não precisa me contar o que aconteceu ou porque você tá mal. Só me deixa tentar colocar um sorriso no seu rosto. Confesso que encontrei meu motivo pra sorrir." E creio que seja isso, mas não só isso...
Com o ano terminando, sempre me invade um sentimento de plenitude besta, cego, como se a eternidade fosse agora e o amanhã, finalmente, à Deus pertence. Sem planos, sem previsões, este é o único momento em que posso não planejar a semana que vem, ou as próximas horas, porque tudo está no próximo ano que se aproxima e se aconchega em nosso peito - filhote de olhos mansos e pêlo macio - e o amamos em sua plenitude por alguns instantes e o dividimos em meses, semanas, dias, horas, porque já não sabemos como conviver com isso à longo prazo...
Mas, ainda estou na parte plena e, ontem, te encontrei nessa plenitude que no ano que vem se tornará única e palpável...


domingo, 25 de novembro de 2012

ChEiRoS

Saber dos cheiros que nos cercam é bom.
Acordar domingo com o pão assando e um Chico baixinho tocando na sala ao lado... Deixa um ar leve no resto da semana... Saber que Diva chega pela colônia que se acerca devagarinho, pelo cheiro de café de máquina... Sentir que o outro tomou banho para vir te ver pela fragrância leve do sabonete, ou pelo pós-barba, ou pelo desodorante ainda fresco, ou pelo hálito de colgate, ou pelo amaciante na roupa... Mas tudo isso não é amor.
Amor é sentar num banco e perceber que o perfume da pessoa ao lado é o mesmo da pessoa amada e, por causa disso, se aproximar mais do desconhecido para sorver o máximo que conseguir de quem se ama; é cheirar em todo mundo o creme de pele, tão conhecido e desejado, que usa o ser amado; é entrar num boticário e ficar experimentando perfumes o dia todo para encontrar um que combine com você e com o seu amor... Amar é fazer o estrogonof de frango cheirar pela casa inteira só para ele saber  qual será o almoço; é se encharcar de perfume pela manhã só porque à noite se encontrarão por acaso no primeiro vagão do metrô; é tentar não suar muito no balé para que o almoço ainda seja primoroso.
O mais importante é saber do cheiro que seu amor tem perto do nariz e isso ser um segredo só de vocês é o mais bonito do amor...




segunda-feira, 29 de outubro de 2012

vinte e seis de outubro passou

Vinte e seis de outubro passou e com este dia triste aprendi tanto sobre mim. Ganhei da Diva uma canetinha vermelha linda linda, como deve ser recebido todo agrado que dela vier. Mas, ainda não é sobre isso que venho falar. Venho para dizer que mudei a senha, que não fazemos mais parte um da vida do outro, que agora caminhamos estradas distintas, senão opostas!, e já não há mais a necessidade de nos tocarmos, coisa tão dolorida e cinza. Venho porque talvez tenha chegado ao fim minha dor inominável, não sinto mais seu frágil coração pulsar junto ao meu e creio que morreu de felicidade por ver que seu tempo era próximo.
No dia vinte e seis minha mãe orou por mim em silêncio para não me acordar e recebi um abraço longo e demorado de mãe orgulhosa da filha. O trabalho foi corrido e eu quase levei uma bronca, mas ficou tudo bem. Fui para casa e é aqui que minha história começa, ou termina, não sei...
Fui para casa de carro carregando um bolo gostoso de morango sem chocolate algum e fiz comida e vi pessoas e ouvi muita bobagem - dessas que pensamos "que bom que a vida não é só isso aqui..." - e o mais importante da história vem agora: eu senti um anjo segurar minhas mãos. Seria a resposta imediata do Criador à oração de minha mãe?! Ele veio manso e se acercou de mim de modo que nada poderia fazer em olhá-lo nos olhos, ele me deu uma espécie de ânimo do mais puro e calmo e eu o senti quando, na cozinha, quis mandar todos embora e ir tomar banho e iria fazê-lo se o anjo não tivesse se aproximado mais e me dito "calma...". Depois disso, bolo e mais bolo, por favor! Hoje é meu dia e quero tanto comemorar!!!
Sabe, ficou a impressão de que todos se foram, exceto ele, sentado no sofá, esperando meu olhar atento. Queria que meu dia tivesse sido melhor, ainda hoje o odeio em cada segundo e o coitado do anjo teve que se segurar para não cair quando lhe joguei na cara que minha mãe não havia pedido nada, que nem se lembrara de mim e que fui feita de idiota por uma pessoa mais idiota que eu... Senti minha injustiça ao fim, o anjo se levantou e foi embora por minha causa, porque estava tarde e lá no céu não entra se chegar depois das 22:00.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

mim?

Me quero beber todo mar que me insulta sem saber se vai ou se fica, a boca seca sem poder tocar, sem poder entrar, porque é morte o que encontraria se me deixasse ir. A Morte me diria "never more, darling.", e quem poderá dizer que não tentei? Vim, não vim?Então, tentei. Corri atrás iludida de correr para longe, e agora? Sou como o mar, indecisa. Triste o meu destino de menina triste, que faz cartas e não se lembra mais delas ao ver lágrimas nos olhos de quem esperava sorriso. E o barulho do mar me confunde em mim o assobio do vento no abismo, o que será que me espera no andar debaixo a sussurrar meu nome no escuro? Escuto, ausculto e vento. Na imensidão da pedra que não toca o fim, na angústia de saber que não virá, nunca mais virá o toc da pedra, espero, espero e nado(a). Já não vivo eu, mas Cristo vive em mim, me dizem lembranças boas e claras. Mas, aquilo que me deixa paz na trilha é elevei os meus olhos para os montes. De onde virá o meu socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra. Meus olhos estão no chão, nas raízes que criei a esperar por socorro. pelo menos agora vivo de luz e serei habitação de passarinhos barulhentos, não é vovó?
Sinto falta de mim, me bebi toda e agora o sal me queima os lábios e me dá sede enquanto caminho, há quantos outros mares a engolir? Há em meus galhos um passarinho razoável que me briga as razões de se estudar, de se mover, de nunca deixar-se abater completamente, será que conto a ele minha real situação de sugadora de águas profundas, que jamais me matam a sede por serem eu e salgadas? Será que este passarinho nunca espetará seu frágil coração numa roseira por tolices? Ando, peso, desabo, me ergo e sigo. É tão prazeroso sentir no ar o sal! Sentir no corpo areia, tombar sem fazer ruído e me afogar. Que bobagem! Me deixo levar até o mais denso do mar e abro minha grande boca sedenta e bebo e sugo e mordo e fico em pé, depois ajoelhada e depois me vou. Mais um deserto, menos um desespero, mas aconteceu de novo!: tenho sede. Olho minhas raízes dilaceradas, já não sou mais árvore. Não contei a verdade àquele passarinho e ele me fez um presente: never more, darling.



sexta-feira, 22 de junho de 2012

Trechos

Aquilo que diz minha mãe ecoa: Triste não é ir à festa, é chegar no portão e não conseguir entrar.

***

Penso ser uma gaiola em terra de ninhos. Minhas mãos que julgava delicadas agarram e fazem sangrar como espinhos. De todos os tipos de doce sou feita, para no fim assar os ingênuos sabiás que em mim vem comer, engordo-os e tranco-os, mas depois, sobre seus ossos, choro minha tristeza de gaiola por mim há muito abandonada...
***

Da boca do leão tiro o doce que me mata. Fica em osso o meu braço amaldiçoado.
                                                                             
 ***

E quando reparo em mim, me vejo poço de inveja a consumir-se o tempo escasso e a mente gorda. Não, nem todos causam tanto mal, há alguns apenas que me forçam ao encontro inventado e escondido, sem paz nem vela nem choro. A estes, vivo morrendo a cada instante de ausência absoluta. E qual ausência não a é? Dos meus suspiros frios, sempre remanesce uma pena daquele que se foi; dos olhos suspeitos, há o pavor de que o mesmo mal me escape outra vez - deve ser lutada e vencida esta batalha. E este carinho todo que lhe escorre pelos dedos, almejando o toque e não a quem? Foi o que sobrou. Foi o que de bom sobrou daqueles outros que tanto mal não me causaram: esta necessidade de acarinhar e proteger, sempre, quem ao meu lado se põe de guarda.

***

Qualquer hora dessas apareço aí pra tomarmos umas stellas e contarmos de uma vez por todas quantas estrelas restaram no nosso olhar!
 ***

Abraço bom mesmo não é aquele que te deixa sem ar e te aperta, aperta, aperta... Bom mesmo é aquele abraço que, ao final, você já não consegue lembrar como foi que começou, quem pôs as mãos aonde, é aquele que te faz fechar os olhos instintivamente, como que para ver a realidade e mais do que ver, sentir.. É aquele abraço que compartilha medos e sonhos, de ambos!, por que não?, é abraço sem reservas, sem preconceito, sem mim e sem você. No momento do abraço, somos um eternamente.
***

Daqui de onde estou vejo você. Algumas lágrimas me atrapalham um pouco, mas ainda ouço sua voz, será mesmo a sua voz?, me dizendo: "eu e ela não temos nada, quer ver? Vou ligar pra ela... Oi, gostosa, como foi nossa noite, você gostou?" e eu corria e chorava e corria chorando. Teria sido você quem me disse "estou onde muito homem gostaria de estar, não estou incomodado, juro." e eu já não me lembro mais se era de alegria ou de melancolia que chorei. Foi você? Foi você que conversou comigo até eu chegar em casa? Foi você que me telefonou de manhã cedo me lembrando do remédio? Quem foi que me deu uma flor? E em quem eu segurei quando ia atravessar a pista? Já não me lembro.. fiz mesmo tudo isso? Havia mesmo pessoas comigo em todos esses momentos? Por que tudo é borrão se o gosto do amrgo permanece na garganta? Aqui onde estou, e onde estou?, sofro.

***



quinta-feira, 10 de maio de 2012

Story Of a Man
You spend most time
Trying to figure out why you can never figure out
Just what you're trying to figure out
Spend more time living

You spend most time
Searching for the love that'll be searching for your love
You love to save your love for love
Spend more time loving

You spend most time
Talking 'bout yourself and how it matters to your self
More than to anybody else
Spend more time listening

You spend most time
Judging everything as if you ever knew a thing
There's more to things than just one thing
Spend more time respecting

You spend most time
Worried 'bout what's to say about your silly little ways
Isn't that silly, anyway?
Spend more time flowing

You spend most time
Fussing, bluffing, hating all times
Bleeding

sábado, 28 de abril de 2012

Das paredes brancas da minha solidão nascem desenhos. Não sei bem o que dizem ou para onde vão, mas me deixam tão felizes, porque, no fim, sei não estar tão sozinha quanto imaginava. Dos meus amigos mudos, há dois que me olham nos olhos enquanto pranteio as lágrimas que se recusarm à descer. Fico de cabeça para baixo e tudo muda de foco, como posso acreditar que no Japão as pessoas andam assim?! Minhas mãos, elas tremem e tremendo me arrumam o cabelo e a voz. Não queria correr por todos estes corredores sozinha, Asterion me daria razão, às vezes, cansa. Tenho um amor passarinho, não, meu amor é por um passarinho. É tão triste, ele vai e volta, vai e volta, nunca sei se devo esquecê-lo de vez ou telefonar. Ele-passarinho voa, voa, voa e chama a todos de "amor". Menos a mim. Por que continuar alimentando meu amor-passarinho? Porque sou pedra, não saberei nunca voar para encontrá-lo na imensidão azul. E sendo pedra, ele é quem sempre desce até mim. Me sinto mal, enjoada, vertigiosa. Mas, preciso dele para saber como é lá em cima, como é fazer o vento correr mais depressa ou devagar... por mim, ele sempre passa do mesmo jeito...
Como, então, voar? Se o amor já não existe, a amizade escravizada está, o infinito particular se humanizou, pelo quê voar? O docinho-passarinho já não olha para baixo, o que aqui existe não o impressiona mais. Como poderia? Em minhas mãos vejo terra e raízes, o sol me resseca o musgo e de nada adianta sorrir, pois tudo se foi, o passarinho agora canta coisas que não entendo, sua voz límpida se tornou ininteligível. Adeus, meu passarinho-amor!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Rio

Caminho. Minhas mãos apontam o chão - denúncia?- meus passos lentos leentos leeentoss Cadê meu olhar perdido?- o chão revela?!- em minha boca um gosto de quê? Caminho e nada há de se salvar ao final nem meus pensamentos idiotas que a todos afastam nem os cabelos esvoaçados que assim o vento fez
O olhar achei vários morcegos enquanto a lua nascia e dele nada lembro senão fotos fatos Machado e um menino pescando sem o pai- Cadê Cadê Cadê aquele que eu focava enquanto a-areia-me os pés??- se foi
Porque foi tolice minha pensar que um menino poderia me manter de pé no momento em que a onda viesse
Esperei esperei por quanto tempo, meu Deus? e veio num abraço sem pressa sem tempo e pude fechar os olhos, pena que ele não viu. Quase nunca fecho os olhos é perigoso olhar lá dentro da caixa-preta da arabesque do abismo e então caí justo no momento em que andaria ao seu lado, pena que ele não viu. Fiquei e ninguém notou- Cadê Cadê Cadê a mãe?! Espera! Não! Tudo bem...
Do amor quase abortado pelo menino que se foi, fica o olhar na madeira do chão que as mãos apontam desapontam e tornam a apontar

quinta-feira, 22 de março de 2012

21/03/2012

Pego um ônibus. Tudo chacoalha por tempo suficiente. Me sento. Sinto a maquiagem escorrer, derreter minha pele, deslizar pelo corredor e se espalhar pelo asfalto escuro. Chego. A livraria é grande e bem diferente do que imanginei minha vida interia. Quais segredos todas aquelas páginas contavam? Quem os ouviu será que compreendeu? E o barulho do subsolo? Por que ruiam os alicerces da Terra? Vi do outro lado da pista sapatos brancos e pensei é ele que vem lá. E era. Um meio abraço desconcertado aqueceu por alguns segundos meu coração morto. Ah, teve uma piada sem graça que e sorri. O pacote foi entregue. Mas tudo isso é besteira, se comparado com o que veio depois. Foi a chuva. Ah, também houve um momento de massagem e conversas entre minha alma e a dele pelo tempo que dura a eternidade. Como duas mãos que se dão cegas ante o abismo que atrapalha o caminho, assim é nosso encontro: incerto e sem ar. Pulamos sempre a linha rabiscada no chão e, com grandes olhos satisfeitos, levantamos os braços com a pedrinha firme entre os dedos. Quais deles são os meus? A chuva me molhou os cabelos cacheados, minha blusa branca deixou ver a renda roxa do sutiã puta. Sorri. Meu  rosto estava de novo se aquecendo.
Um novo rumo, talvez. Qualquer outro sonho, menos o meu que me sequestra o sono e me traz na memória aquilo que esqueço todos os dias. Na memória a vida, eu. Penso tudo bem que seja assim, tudo bem. Me viram chegando as pessoas e já disseram se vier com aquele papinho de coração dilacerado, já sabe! Vou-me embora e você fica. O que não entendem é que chamo daquilo que eu bem entender a dor que me convém. E chamo-a de dor-de-adeus, que é pior que dor-de-morte. E chamo-o de amor-eterno, porque daí o erro é desculpável e se torna mais leve.

Agora sei que o que chacoalha é meu peito, deitando fora a água podre da solidão desmedida.



segunda-feira, 19 de março de 2012

BoRbOlEtA mal-criada

Passeia de flor em flor
a borboleta mal-criada
do meu coração azul.

Ela se embrenha e se desembrenha
enrolando suas asas
na seda do meu vestido,
Ah, borboleta desbotada,

Por que me deixar imóvel,
se tudo o que quero
é retribuir o farfalhar de suas
doces asas em mim?

Mas de mim, queres distância
que já me contaram
sobre sua nova paixão - essa
de olhos lagos e algo mais -
já me negaram o sonho,
o sonho, o sonho.

Borboleta desbotada,
leve ao menos minhas cores
para que o Amor não morra -
em mim.


***


segunda-feira, 12 de março de 2012

tatto











Andorinhas voam, voam, presas na pele.
Para aonde vão?
Seus olhos fitam o infinito...

Andorinhas voam, voam 
e não saem da pele desenhada.
Para aonde vão?

Seus olhos são pontos negros
na pele clara.
As andorinhas andorinham.

O que não sabem as andorinhas andorizantes 
e é triste que não saibam
é que estão presas na pele- gaiola- prisão.

SoCoRrOoOoOoO!!!!!!!!!


sexta-feira, 9 de março de 2012

Jamais Te Amei Tanto, de Bertold Brecht



Jamais te amei tanto, ma soeur
Como ao te deixar naquele pôr do sol
O bosque me engoliu, o bosque azul, ma soeur
Sobre o qual sempre ficavam as estrelas pálidas
No Oeste.
Eu ri bem pouco, não ri, ma soeur
Eu que brincava ao encontro do destino negro -
Enquanto os rostos atrás de mim lentamente
Iam desaparecendo no anoitecer do bosque azul.
Tudo foi belo nessa tarde única, ma soeur
Jamais igual, antes ou depois -
É verdade que me ficaram apenas os pássaros
Que à noite sentem fome no negro céu.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Do Inquieto Oceano da Multidão, Walt Whitman

Do inquieto oceano da multidão veio a mim uma gota gentilmente 
suspirando: 

— Eu te amo, há longo tempo 
fiz uma extensa caminhada apenas 
para te olhar, tocar-te, 
pois não podia morrer 
sem te olhar uma vez antes, 
com o meu temor de perder-te depois.
 

— Agora nos encontramos e olhamos, 
estamos salvos, 
retorna em paz ao oceano, meu amor, 
também sou parte do oceano, meu amor, 
não estamos assim tão separados, 
olha a imensa curvatura, 
a coesão de tudo tão perfeito! 
Quanto a mim e a ti, 
separa-nos o mar irresistível 
levando-nos algum tempo afastados, 
embora não possa afastar-nos sempre: 

não fiques impaciente — um breve espaço 
e fica certa de que eu saúdo o ar, 
a terra e o oceano, 
todos os dias ao pôr-do-sol 
por tua amada causa, meu amor. 



Março...

Li um livro há alguns dias, "Trabalhadores do Mar", de Victor Hugo. Bela a história. Não, não é sobre o livro q falarei, é da pergunta que ainda me dá nós sobre nós na garganta: "será que você ainda pensa em mim?". Março começa em mim com um gosto de suspense, não tenho certeza de mais nada. Tudo é turvo e barulhento, como a tempestade nas Douvres. Ao mesmo tempo em que o mar ameaça e geme, traz consigo aquela tranquilidade que somente o mar o pode fazer: seu gemido entra em consonância com o da alma, e, por instantes, se tornam um só. É exatamente dessa paz que escrevo. Gilliatt deu o melhor si, aquilo que só se é dado uma vez na vida, os 35 presentes e uma vida inteira de respeito e admiração, e morreu como rei daquilo que dominou com dificuldade, o mar. Assim queria ser eu, mas parei na metade do caminho e me fiz pedra. Agora rolo de uma relação à outra, sem nunca me deixar tocar. Faço bem? Já não sei. Amar como Gilliatt é o novo desafio que me move, porém receio fracassar como o fiz com a Rosa, de O Pequeno Príncipe. Não soube aprender a amar sem ferir. Gilliatt é minha luz.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tudo acontece muito rápido. O amor acaba para recomeçar em outro lugar, com novas pessoas, ambientes, opiniões. O amor acaba. Mas recomeça, também, não nos detenhamos na dor, na primeira parte que sofre e chora, olhemos para a etapa seguinte, a da re- descoberta do outro, daquele que te fará sonhar e sorrir. Alguém diz : "vc me deu, me deu a paz". Outro alguém "eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta"... O carnaval acabou e minha vida re- começa. Espero encontrar um novo amor.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um sentimento de luto me completa aos poucos. The Smiths canta "let me get what I want this time, I hadn't had a dream in a long time, so for once in my life let me get what I want, God knows it will be the first time...", agora tudo se esvai, a poeira da ampulheta escorre entre meus dedos, a garrafa abandonada se quebra, a peteca cai em cima do telhado, assim, simplesmente, cada um dos presentes se vai e, por fim, não há mais nada que me lembre o que fui e sou esquecida. Todo o amor, todo o cuidado, se transformam em uma grande bola de fogo que sou obrigada a engolir sorria, sorria, me dizem aqueles por quem o sacrifício é feito. Mas eu não te pedi para fazer nada disso, é sempre a desculpa de quem realmente não me pediu que o fizesse, então, por que diabos o fiz? Para não ser esquecida, para que por um tempo fosse lembrada com carinho. Porque essa imensidão de amor que escolhi viver me engoliu os olhos, a mente, os pés e agora não sei mais qual a cor dos meus cabelos, das roupas que uso, do sorriso costurado no rosto - tenho rosto?, também não sei - não sei... meus pensamentos estão são confusos, minhas mãos tremem assim como minha voz. Não acredito mais naquilo que falo, não mais. Tudo em mim chacoalha como um prédio condenado que é implodido, de baixo para cima, me vejo desmoronar: meus restos de pés, meus joelhos fracos, minhas coxas flácidas, meus seios murchos, meu rosto indiferente. Estou de volta ao chão, o quanto pedi, meu Deus, para não voltar aqui, para não engolir a poeira daquilo que já fui eu!!... em vão... Deus me escuta... de novo ao chão, sem glória, sem força, sem paixão. Ao chão por Nada. Nada foi o nome que dei ao fiasco de amor que pensei ter vivido, estranho como se pode amar unilateralmente uma mesma pessoa por tanto tempo, ferida aberta no meu fígado, luz dos deuses que toquei. I hadn't had a dream in a long time... e quando pensei viver o melhor do sonho, me descobri no pesadelo da Alice, acredite, Alice, acredite. Inútil, não conseguirei matar o Jaguadarte, senão morrerei, somos os dois lados da mesma moeda. O pesadelo que desenhei e vivi enquanto esperava o sono vir, julgava ser sonho, entende? Mas não era. Pesadelo. Pesadelo. Amor. Ele me escorrega pela mão, tento de todas as formas fazê-lo ficar por mais alguns instantes, quem sabe se no segundo seguinte não o terei esquecido? Prezo sua individualidade e espaço, queria tê-lo como a um boto no Rio Amazonas, sabe-lo ali, lindo, sorridente, meu. Ele insiste em ir embora, em não mais voltar, em não mais ligar. Queria saber dizer vá com Deus, que você encontre alguém que te faça tão mal quanto você me fez. Mas só de olhá-lo, me perco em devaneios e sonhos pueris e percebo que é dessa pessoa que ele se cura em mim e em tantas outras que não saberia por onde começar. God knows... até quando? Noto em minhas mãos manchas de sol e estrias de posições intra-uterinas, elas tremem, temem, mentem, o que mais? Elas acariciam, massageiam, desvendam. Quem? Quem quiser, quem puder "pro que der e vier comigo, eu lhe prometo o sol se o sol sair e chuva se chuva cair..." Porque há dias de felicidade incontrolável e dias de tristeza sem fim, não importa como me desperte a claridade, precisarei de uma mão para segurar a minha, de uma boca que me beije doce e calmamente, de olhos que me vejam trocar de roupa devagar... ahh, se soubesse dos arroubos da paixão, não me teria doado totalmente, não me teria sonhado nem me jogado de tão alto, tão alto monte que subi. Apesar de ser ainda por causa desses arroubos incalculados e imprevisíveis que canto todos os dias. Saberia hoje ao menos me olhar no espelho e me ver sem o cara que tenho na cara, cara. "it will be the first time..."



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Quase um Segundo, de Cazuza

Eu queria ver no escuro do mundo
Aonde está o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores e as coisas pra te prender
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei

Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

Ás vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Tudo que não me deixa em paz

Quais são as cores e as coisas pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei

Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

A Falta de Erico, de Carlos Drummond de Andrade

Falta alguma coisa no Brasil                                                                      
depois da noite de sexta-feira.
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.


Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda - como tarda!
a clarear o mundo.


Falta um boné, aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo
a derramar-se lentamente.
Falta o casal passeando no trigal.


Falta um solo de clarineta.





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Clarice Lispector

E depois de uma tarde de quem sou eu
E de acordar a uma hora da madrugada em desespero...
Eis que as três horas da madrugada eu me acordei
E me encontrei
Simplesmente isso:
Eu me encontrei calma, alegre
Plenitude sem fulminação
Simplesmente isso
Eu sou eu
E você é você
É lindo, é vasto
Vai durar
Eu sei mais ou menos
O que vou fazer em seguida
Mas por enquanto
Olha pra mim e me ama
Não
Tu olhas pra ti e te amas
 É o que está certo.
Não sei se é porque está chuvoso o dia ou porque estou de férias, mas o Tempo se arrasta e eu me arrasto ao seu lado. Nossas mãos se enlaçam e se misturam na lama que nossas lágrimas criaram, estamos no chão. Sem dor ou lástima, nos jogamos com a precisão do jogador de esgrima: espadas ao chão, rostos na lama e nossas roupas alvejadas. Já não nos repudiamos, não brigamos nem descutimos o destino, já passou, já foi. O Tempo, às vezes, me agarra o cabelo e puxa, não vou, não quero perder isso também, não me desvencilharei da queda que me acorrenta e aperta. O Tempo puxa e chora, ao não largar aquilo que me faz mal, perdi tanta coisa e o Tempo geme. O que perdi? Belém Belém nunca mais 'tô de bem, até o ano que vem! O que perdi?! Não sei.



Não nos esgueiramos mais pela terra fétida. Nos sentamos à mesa e sorrimos, escondemos as mãos embaixo da toalha, porque nossas unhas se encardiram e não sai, é verdade, tentamos de tudo e continuam pretas as unhas.  Ao gosto de vinho e alcaparras comemoramos nosso encontro, finalmente... Discutir tudo aquilo que não dissemos minha vida inteira e, nossa!, o Tempo passou rápido. Estou cansada e quero dormir. Ele sorri. Não, não quer não. Você quer repousar suas mãos nas mãos de outra pessoa e esta verá suas unhas sujas e não desejará mais estar ao seu lado. Fico. E como são doces os olhos daquele que nos envolve em mentiras e prazeres, como são doces os olhos negros e profundos do Tempo. Que nos sufoca e apressa. Corre, corre, corre... estou chegando e trago um velho amigo, corra! Morra! Fique! Que estou só e ninguém se volta para mim com qualquer verdadeiro sentimento.


Com minhas unhas encardidas e ensanguentadas, enforco o grito de desespero. Não há mais tempo, não há mais morte, somente eu e minha espada e duas outras mãos para limparem as minhas.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Nossas fotos que me perderam o ar...

Era uma vez uma família feliz... E eu e o BB...


Um dia, numa pizzaria, ele fez isso ^^
Acreditar ou não acreditar? Eu me perguntava...
Ehh, acreditei...


Oração da Virada "Senhor, me dê um amor com sabor de fruta mordida, Amém!" E houve um beijo.

Adélia Prado

CORRIDINHO

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho: 
É descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

Adélia Prado

TEMPO
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonatham.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.


Adélia Prado, linda

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

As ImAgEnS mE CoMpLeTaM...



































Caio Fernando Abreu

"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. 
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. 
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”






quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Que já me Disseram

Disseram: hoje assim ao ver-me triste: "Parece Sexta-Feira de Paixão. Sempre a cismar, cismar de olhos no chão, Sempre a pensar na dor que não existe…"
Ah, se eu pudesse revelar a dor que carrego cá comigo, um oceano se tornaria gota. E, se, por acaso, não fosse amor (o que é provável) e rapidamente o meu maior-que-o-oceano secasse, o que eu mostraria ao mundo? Porque se choro minha dor aqui é para que ele-meu-mundo saiba o estrago que me causa sua ausência e silêncio, ou não? Será que me engano?




Disseram que o Amor não existe. Que nunca existiu.




Disseram que estou no tempo de produção, de exploração das minhas habilidades. Discordo. Estou no tempo de observar as mudanças em mim e delas desvendar minhas veredas (clichê).




Disseram que se não há ninho, não há risco do passarinho ser derrubado. Mas se não houver ninho, não há também a promessa de re-novamento da vida e sua perpétua-ação.




Quis chorar, mas percebi que era tarde demais. A dor havia ressecado o maremoto do meu coração.




Há uma corrente de vida em mim que não se contém em me ver abalada, desmoronando em troco de nada. Ela grita e se contorce, me faz virar os olhos e abrir a boca. Já não há som, só a mímica que persiste e afoga minha alma na vida rosa-choque vibrante.




LISTA DE DETALHES SONHOS QUE JÁ VIVI:


*subi no meio-fio para beijar alguém;
*fiz pedido para estrela cadente e se realizou;
*bebi cerveja na boca de outra pessoa;
*ouvi Caetano Veloso no meio da chuva;
*comi em restaurante chique e depois fui para o Parque da Cidade ver o pôr-do-sol;
*vejo dentro dos meu olhos um céu estrelado e o rosto de B... me olhando com carinho;
*recebi resposta do meu pedido para 2012 enquanto o fazia;
*passei a noite acordada deitada em um colchão na sala da pousada com o B.;
*tomei sorvete com M... no centro;

*senti o perfume de D... no vento;
*ganhei Serenata de Amor e Bis de pessoas especiais;

*dei estrelinha na praia;
*encontrei a Stella em Ilhéus;
*tenho amigos eternos;
*me compararam à Amelie Poulain;


Sabe como são fáceis meus sonhos, uma flor no cabelo, uma palavra de adeus, um gesto, qualquer um que já tenha sonhado, e pronto, fez-se um estrago no meu peito e floresce ali um sonho. Ano passado quis ser bailarina (viu no face?)e fui.


Fui ser feliz, fui passar momentos de estresse e alegria... Ouvi uma voz amiga bem perto do palco que me disse baixinho "A..." Como foram doces as gaitadas e o beijo ao final. Como foi eterno o abraço de M... e recompensadoras as lágrimas de minha mãe. Então, decidi: vou continuar sendo bailarina (uma daquelas que Oswaldo Montenegro canta).

Na coxia, perto da hora de entrar, eu pensei comigo mesma: só tenho você, A..., não me decepciona, não, por favor. E entrei. Sorri o tempo todo, não por querer, é que o nervoso era tanto que travou assim, num sorriso tranquilo de quem sabe o que faz. Não sabia, juro.