segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Sobre o começo do Amor

Tudo bem que já não sou aquela do início do blog. Tudo bem ter colocado mil lentes para te enxergar como eu queria, apesar da Verdade. Mas, ainda cega pela claridade, tateio algumas linhas que me são familiares sobre o que senti por você. Essa é a primeira vez que não sinto o que achei ser eterno. Ainda sonho acordada com você e toda noite peço aos deuses dos universos paralelos para que cada sonho se realize e em algum espaço-tempo eu sou feliz ao seu lado. Mesmo assim, preciso admitir que neste universo seguimos trilhas diferentes e, hoje, eu posso dizer que sei qual foi a parte da sua estrada no meu caminho e que eu queria mais. Foram seus olhos atentos, me decifrando fácil os vícios e me decorando as palavras. Foi a atenção nunca antes recebida e até então julgada não merecedora. Foi a vida ficando leve quando estava com você ou o tempo passando devagar. Era meu coração batendo acelerado, me impedindo de entender o que você dizia. Foram meus passos correndo atrás dos seus pelo espaço da UnB, ainda tão temido por mim. Eram o silêncio e uma estranha sensação de paz enquanto te devorava com o olhar. Foi o desejo de ser recebida sempre no seu abraço-casa. Era o fim da busca pela Verdade, porque eu a encontrara e ela tinha dois olhos sérios, cabelos castanhos e um ar tímido e solitário. Foi aquela vontade apressada de comer tudo que havia sobre a mesa, mas, na ânsia, não percebi que joguei no chão a comida, quebrei a mesa e morri de fome. Foi a sua voz cantando Marisa Monte e a minha voz sem fala. Por fim, te vi indo embora e eu fudendo o mundo em troca de mais alguns segundos de atenção. Inútil. Mordaz. Desesperado.
De todos os amores que eu fiz, o seu foi o único especial. Eu, menina, deslumbrada e medrosa, vi em você uma casa, onde eu podia me esconder dos monstros que você, sussurrando, revelou que moravam dentro de mim. No início dessa caminhada, você passou por mim feito raio e eu não sou a mesma desde então. Te chamei de Gato-do-Mato, Teseu, Diadorim, Dilúvio, Gilles, Dustfinger, Artur Dent... Mas, a Verdade é que não houve posse, apenas a chama de um sentimento bom que queimou até consumir tudo. Você me ensinou a usar, ao invés de deixar mofar guardado. Me desculpe se na folha branca do seu silêncio eu escrevi o que quis e me sabotei ao me fazer acreditar que tinha sido você que escrevera. Me desculpe por cada momento ruim. Saiba que eu me lembro de tudo. E obrigada!
Você me ensinou a ser quem sou, apesar ter sido um sonho.

It's a new dawn. It's a new day. Maybe...

O fantasma na minha voz é Diu. A sombra nos meus olhos também. A confundo com olheiras, sangue coagulado e lágrimas secas, veredas. Não consigo voltar a ser o que eu julgava ser antes dele, não quero. Eu carrego o tributo vivo em minhas entranhas, sacrifício pronto a ser imolado, caso Ele assim o peça. Apesar da profundidade, sigo o caminho. Tento não pensar tanto, busco os sentimentos reprimidos há tempos, por eles, sim, reerguerei meu exército. É difícil determinar o quanto manterei essa postura, mas dessa vez sinto que o fantasma se afasta. Ou seria eu que me afasto dele? Ou estarei eu, aos poucos, me transformando em fantasma como ele? Medo antigo esse o de ser o fantasma que arrasta as correntes pelo corredor, abre as gavetas da cozinha, puxa pelo pé e levanta a coberta. Mais antigo ainda é o medo de me tornar fantasma ainda em vida.
Penso no que fui em vidas passadas e as relaciono com os medos que trago hoje (se as vidas atrás são parte de nós e como será?). Penso que fui bruxa devorada viva por cães e que fui monge copista queimado entre papiros e papiros. Depois, não sei. Quero saber.
Penso também no ninho de Amor entre os braços de meu pai e minha mãe. Sempre presentes. Sempre com olhos amorosos e pacientes. Eu erro constantemente, mas posso encostar minha cabeça em seus ombros largos e fortes. Dentro desse ninho, tenho paz, posso retirar as máscaras e sonhar sem amarras. Foi dolorosa sua construção, cada graveto, lápis, saliva e lodo exigiram muito dos nossos frágeis bicos de sabiá da cidade. O tempo da delicadeza e do cuidado é agora. É recíproco. É nosso.
Penso no contrapeso da balança de Anúbis. Tudo o que retiro de mim para eu caber no equilíbrio de outra pessoa. As tralhas que carrego para moldá-las e preencher os vazios. Sou mais pesada que uma pena e não há divindade felina que me salve ou me pondere. Se tento parar, as engrenagens da vida me atropelam e sou lançada de volta ao prumo. A medida de mim mesma é a soma das minhas perdas (meu pai ficaria feliz com essa última frase-título), pena que não ouvi os conselhos de Clarice.
Penso nas linhas das minhas mãos e no trajeto delas sobre outros corpos - Oliver se lembrando de Elliot. O suor, os tremores, os caminhos desbravados entre jeans, camisetas e cobertas já estão guardados no jeito acostumado, na destreza e no desinteresse, como a estrada na qual se anda mecanicamente sem notar suas nuances. Minhas mãos que anseiam ser seguradas por outras, que apertam firme a alça da bolsa ou a ponta da blusa, porque quem cai sempre leva o susto do abismo nas mãos espalmadas contra o chão para proteger o rosto.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

As trilha sonoras do cotidiano

Não sei a quem endereço essa postagem. Diu não cabe mais no destinatário. Não tenho mais palavras para dizer-lhe, Diu. Acontece delicadamente o que temia: Diu se esvai. Era o trajeto, pela companhia, o anel rodoviário por fora da dor, Neverland ou um sonho. As influências ficaram e se somaram ao que eu já construíra. Escuto mais do que minha própria voz quando canto, rio, suspiro, converso, calo. Vejo mais do que meus próprios olhos quando miro o espelho - sei que a dureza e a compreensão que não exige vieram dele. Ainda não consigo ouvir Amarante, mas, um dia, Cavalo voltará à minha playlist. Não posso te obrigar a ficar, não quero te convencer de que seria legal. The Smiths estouram as caixas de som, gritando o que eu gostaria de ouvir, por me lembrar ele: "but you know where you came from, you know where you are going and you know where you belong. You said I was ill and you were not wrong. But I can't believe that you'd ever care, and so, you will never care... Oh, the alcoholic afternoons when we sat in your rooms they meant more to me than any living thing on earth... you will leave me behind!"
O destinatário talvez seja meu self futuro, um pouco mais triste e centrado. 
O frio está entrando pelas frestas das portas e janelas, o vento da mudança. Ignorei-o por tantos anos e não consigo mais. Algo me incomoda. O que será? A solidão não foi uma escolha. Escolhi a via errada para construir meus relacionamentos. Sei transar, mas não consigo me interessar pela vida das pessoas que se deitam ao meu lado. Que erro ingênuo o meu! Achar que esse mau hábito afastaria a solidão, daria sentido a alguma parte escura da minha vida. Pendulo entre o medo da solidão dos livros e o desgaste de me tornar as pessoas que frequento (desgaste maior de me des-tornar-las). Foi legal me tornar Diu e não quero des-tornar-me. Carrego com orgulho as partes dele que ficaram, elas iluminam aonde devo pisar depois. Enxergo-me melhor com as luzes dele em mim. No que me tornarei daqui para frente? Recairei no silêncio da ausência de Diu e telefonarei? Espero o futuro chegar para eu saber ao certo. Até lá, fico com meus livros e a compreensão que deles recebo. 
Deveria ter sido Bruno, não Diu.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Ainda você, mas não só

Ainda falo de você. A mínima possibilidade de te encontrar, seja na livraria ou na UnB, já transforma o meu dia. Recontei o sonho das mandalas e a única conversa sincera que tivemos. Te dou cheiros, sons e formas que em nada condizem com você. Eu te amo. Queria ter-te dito isso desde a primeira vez, mas não consegui. Queria ter fugido, e algo no seu olhar me prendeu para sempre. Você sou eu? O que é mesmo que eu venero em você? Seu olhar presente, a voz pouca, mas certeira, o cheiro da pele, do gozo, do cabelo. Gosto também do sentimento de casa, da trilha sonora que acompanha meus passos rumo aos seus, de como não sinto medo quando estou ao seu lado.
Hoje minha mãe viaja. Ficarei meses sem ve-la, na comunicação fútil do telefone. Eu queria que ela soubesse que a amo, mas não digo. A ferida ainda existe. A dor se tornou mágoa, nunca passa a aflição. Apesar de saber que não a encontrarei por algum tempo, apesar de saber que ela deseja ser amada e aceita (quem nao deseja a mesma coisa?), apesar de os olhos dela me darem vontade de chorar, não disse a ela que a amava. Tentei. Telefonei. Mas não consegui. As brigas nunca desataram o nó de família, nunca me fizeram duvidar que eu poderia contar com ela. Mas as palavras dela cravaram suas garras fundo em mim e, ao vê--la, cismo nas cicatrizes. Não quero que seja tarde demais. Não quero chorar sobre uma cova todo o amor tão mal escondido. Quando ela mandar notícias, direi ao final: te amo muito, mamae.
Querido Diu, será que amo o nosso trajeto mais do que a você? Seu humor pesado, o olhar que não pisca, a certeza de que o amor estava lá ao lado do medo. Suas roupas pretas, a fotografia dentro da caixa, o sorvete ao lado de casa, as mensagens de madrugada, eu acompanhada no mundo. Creio ser esse o ponto inflexível: eu era sozinha antes de voce e agora desejo companhia a qualquer custo. Antes sol do que mal iluminada, não é mesmo? O Laranja Psicodélica espera nossos downloads, eu espero os convites para filme de madrugada, eu te espero. A cada dia me torno o que mais temia: a pessoa que espera ansiosa ao lado do telefone por alguém que vive a vida e esquece de carregar a bateria do celular; a pessoa que tem como noite ideal uma cama, uma coberta, sushi e televisao; a louca que ri sozinha na rua (a loucura sempre me atraiu profundamente, será que terei esse privilégio?); a pessoa que trabalha todos os dias atea exaustão e espera o final de semana para viver; alguém que sofre de amor pelo resto da vida; a pessoa que mente fantasias por não ter vivido nada; a pessoa fracassada (no mestrado, nas amizades, no pensamento constante, no Amor). Diu, eu te/me pergunto: o que há de errado em mim? Você me chama de "mulher espetacular", mas não me quer por perto. 
O que da minha sombra espelho em você e persigo incansável? O que em mim, projetei em você a ponto de nunca te deixar ir, porque senão não verei mais meu reflexo na janela do metrô?
Querida Agnes, seu silêncio e seu olhar perdido me fazem te dar meu reino por apenas um dos seus pensamentos. Seus cabelos ao vento me lembram Caetano, leãozinha. Sua risada desesperada enquanto te deito na cama (era medo de cair) não me brocham nem afetam minha masculinidade, mas me fazem a pessoa mais feliz do mundo. Quando você pula de alegria ao ver algum amigo na rua, me lembra de quando você corre e pula no colo do boy (ele ria e te segurava, mas teve outro que te rodou por minutos eternos pela primeira vez). Querida Agnes, você concorda que querer sexos especiais é burrice quando, na vida, você terá tantos sexos não especiais? Creio que não. Os seus sexos especiais estão muito bem guardados no comboio de cordas. Por fim, siga o conselho de Vanessa Yves, "be true".

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A luz de quem sou

Ou seria "à luz de quem sou"? Acho bonito isso de ser abstrato, babe, a beleza é algo tão fulgaz... Penso, logo existo. Existo, logo penso. Se sou mosaico com partes roubadas, pedidas, doadas e perdidas de outras pessoas; se consegui fazer das partes, arte; se consigo afirmar que há um rato esmagado que me esmaga constantemente e do qual não consigo fugir; se eu percebo na sincronia do Universo, o poder da minha escolha pessoal; se eu escolho relembrar momentos bons over momentos ruins; se eu te dei as chaves do castelo até a fé encontrar o caminho, o lugar, onde estou; se eu te adoro tanto que recolho sem tempo tudo o que você deixou em minhas gavetas; se eu reconheço que eu não sou você; e que nunca saberei qual é a parte da sua estrada no meu caminho, então eu existo para além de cada uma dessas partes que percebo; eu sou artesã de minha própria vida, a arte final; eu leio, vivo e respiro Clarice; eu aceito minha metade rato que se comunica com a metade rato do mundo, enquanto vivo suas maravilhas-não-rato com minha parte não-rato; eu gosto da minha falta de memória seletiva, apesar de ter algumas que não se evaporam nunca, lesma presa no musgo; vivo a arte do encontro, sem a presunção de posse ou de sentimento eterno, que mais se assemelha à prisão do que à vida e aos sonhos compartilhados; as chaves são suas e, talvez, daqui para frente, haja algumas limitações sobre quando você pode entrar e até onde sua presença pode iluminar meu dia - a gaveta está esperando sua volta; você me permitiu as experiências mais profundas, sem armadura, e sou grata a cada momento-rato e não-rato. É para você que eu canto, apesar de que, desde abril, na hora da canção em que eles dizem baby, eu não sei o que dizer... O mundo era frio e cruel e com você eu tive um momento de paz. Engraçado como eu me sinto mais segura quanto mais perto chego da Muralha da China. Você é minha muralha, dura, factual, indisponível. Não te supero. Tudo tão intenso, eu tão sua e você com musgos prendendo minha pele-lesma de rato esmagado.
A luz de quem sou é isso: mosaico. Vitrais góticos que me transportam ao ceu, presa em corpo secular. À luz de quem sou, digo com certeza: você foi o ser mais bonito que já conheci e tenho medo de nunca mais viver esse sentimento de mãe de Deus. Logo eu,  solo de clarinete ao longe, sendo despertada por uma melodia mais suave que a minha, a melodia do que chamo de Amor. Alguém ainda vai querer caminhar comigo vinte mil léguas submarinas?

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O que percebo, ainda que míope

Percebo as poucas coisas ao meu redor, que ainda me dão paz. Ao ir para o trabalho, percebo que o escuro do céu ressalta o verde claro dos bambus. Lembro-me sempre da sua mensagem SMS a dizer "eu indo trabalhar e você nem sonhando em acordar" (acho que foi a partir desse momento que te amei e soube que você seria minha perdição - não estava errada, no fim das contas). O Cruzeiro do Sul me faz sonhar, mesmo que pelos poucos segundos até a portaria, com sobrevivência na selva, piratas com seus astrolábios e minha adolescência em Ilhéus. Percebo também, com certa tristeza que não vejo mais o sol nascer em companhia de amigos queridos e que há tempos não tomo batida de morango ou maracujá. Ao seguir a rua, encolhida no casaco verde, pedindo ao universo para não ser assaltada, vejo as rachaduras da calçada. Em uma delas, uma flor nasceu, morreu e agora só resta a lembrança que me faz sorrir. Chego no ponto de ônibus com cinco minutos de antecedência, tempo de colocar os fones, pegar o cartão e me certificar que, durante o expediente, não chorarei (deixo escorrer duas ou três lágrimas sinceras antes de dar sinal). Em pé, percebo que, mesmo a playlist sendo a mesma, em certas músicas, me perco em pensamentos e nunca decoro a letra. Há outras músicas que me fazem sofrer de saudade. Já não escuto mais Rodrigo Amarante, mas Cícero ainda grita em meus fones "não se esqueça de esquecer alguma coisa pela casa e vir buscar do nada" e viajo em seus olhos fixos em mim, no calor das suas mãos na minha ao me ensinar a tocar a bacia budista. "A velha vila velha e vida amarela" me lembram que um domingo com a mesa cheia de netos também é uma prisão, me contento em matar anjos e, depois de morta, ser chamada de "a puta mais velha da cidade" (terei amado José Arcádio ou Aureliano, sendo eu Pilar Ternera?). Sempre desço do ônibus quando Renato desafina "bye, bye-bye, Johnny. Johnny, bye-bye. Bye-bye, Johnny". Entre o ponto e minha sala, vejo árvores em tons diversos de verde, marrom e cinza. Minha sapatilha manchada de roxo revela uma predileção por pisar bem em cima do jamelão maduro que encontro no chão. Às vezes, tem sabiá, mas sempre pombos. Entre uma faixa de pedestre e outra, dou bom dia ao porteiro do prédio em frente e penso duas vezes antes do próximo passo. Estou cansada antes mesmo de entrar no estacionamento. Um dos pés dentro e coloco minha máscara encardida, tiro os fones, respiro fundo e levanto o olhar. Não posso mais voltar. Até às 19:00, serei apenas beijos, abraços e broncas. Do portão para dentro, ninguém sabe de minhas paixões ou sonhos mais secretos, não ouso pensar neles por medo de contaminação. Sou Outra, sorrio Outra, respiro Outra. Dentro dos portões, te deixo do lado de fora, com alívio. Entre um mantra e outro, desejo que, ao ir embora, eu seja tão Outra, mas tão tão Outra, que você não me faça falta e eu te deixe lá. Nunca me transformei tanto. Você volta comigo, no mesmo trajeto, com o final da playlist. No cemitério, já não há mais Fressato e seus tan-tanto amor ou "volte logo por favor, que a sua casa ainda está aqui". Me pego olhando para fora da janela. Você nunca estará no carro ao lado ou me verá passar na frente da Pindorama. Percebo que meu dia foi triste, há quase um ano já, em abril fará um ano sem você a fuder com a minha cabeça. Mil lembranças, os mantras para proteger minha alma, frases que se repetem, medos e sonhos. Seus olhares de reprovação, de decepção ou de revolta sempre me fazem lembrar o porquê é bom não te ter mais nos meus dias (como se eu não dormisse nem acordasse por sua causa, ainda hoje). Atravesso a pista no escuro depois da jornada cumprida. Dou boa noite ao porteiro que vigia minha casa. Enquanto ando no bambuzal, retiro a máscara. Respiro aliviada. Não morri. Não hoje. Subo no elevador procurando a chave, quase não querendo encontrá-la, só pelo motivo de chorar tudo o que não deixo sair do peito. Chaves na mão, luzes de casa apagadas, carne congelada e a certeza de que não nasci para morar sozinha. O nó na garganta aperta. Tiro a roupa na cozinha, acendo o cigarro, vou para a varanda, olho em volta à procura de algo que me excite, me deixe viva, pelo menos até a hora de dormir. Belisco qualquer coisa da geladeira. Um vício por semana, se hoje fumo, só semana que vem posso beber, assim, penso duas vezes antes do vício escolhido. Tomo um banho, escovo os dentes. Deito na cama, penso em você e percebo o calor da sua pele emanando da minha. Fecho os olhos para não chorar (já estive neste lugar, já chorei até o dia clarear e a saudade não passou, então não choro mais), repito "sou forte, independente, o silêncio dele deixa claro o lugar que ele quer ocupar na minha vida", mas antes de terminar o mantra, vejo os seus olhos fixos no meu, sinto o calor das suas mãos, ouço você cantando "e no meio de tanta gente eu encontrei você" e sorrio triste. Durmo. "Amanhã recomeço". Percebo que aprendi com as moças dos filmes proibidos a fingir, a esquivar da dor e a tomar pela força o que desejo. Sinto nojo, empatia e certeza de que me torno mais parecida com elas a cada dia. O meu "self-harm" está tão constante que deixei apagar a luz de quem sou. O céu azul contra as árvores verdes me dão dicas de que habito ali, mas a pressa nos passos e a respiração acelerada me permitem ver, e não viver. Sinto muito, mas você ainda será assunto de vários outros posts. Por fim, percebo que meus cacos foram colados com o ouro da sua presença e que eu-inteira só existe porque as suas músicas, livros, opiniões, humor e ser viraram massa de unificar. Não digo seu amor, nunca o direi, mas você inteiro me fez inteira. Por isso, é impossivel eu me olhar e não ver seus olhos encarando de volta ou minha mente não ter a sua voz, o que é triste, já que o seu ser não está mais presente. Eu te agradeço a paciência tibetana e a dedicação minuciosa, mas dói. Cada sopro é uma nova rachadura. Me sinto culpada ao ler Clarice ("você tem cara dessas meninas que lêem Clarice e acham que sabem tudo do mundo"). Está na hora de eu me partir novamente em mil? Já não há corda, nem mão para segura-la, mas não posso simplesmente caminhar. O que farei com os sete anos imóvel? O que ser? Como guardarei seu ouro tão amavelmente cedido (ou cindido?). Me exaspero. Queria ir-me embora pra Pasárgada, pois lá sou amiga do rei, terei a mulher que quero, na cama que escolherei. Mas isso seria uma rima e não uma solução.
Obrigada pelos peixes!

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Estou quase lá

Essa semana, meu querido governador R. anunciou a posse de 632 professores. Aguardo a minha vez. Esterei na próxima listagem. Ficarei livre dessa prisão, que os meus pares chamam "trabalho". Estou cansada. Mentalmente. Fisicamente. Emocionalmente. Quero dormir, não mais para esquecer, mas para criar um outro universo em que Ag.nes seja Outra, também. Meus pés seguem o ritmo imposto, minha mente se silencia e obedece melhor, mas há algo que reluta, que faz retardar o gesto por alguns segundos. A esse algo ergo  taça e faço o brinde. Em minha mesa, Charlie Brown me faz companhia, doce lembrança de B. e dele escuto "ai, esse cachorro me lambeu!" ou "cabeção" e, por instantes sou transportada a outros lugares em tempos de felicidade desmedida, ao lado de B. Meu desejo de fuga aprofunda em mim suas raízes e já começo a pressentir as asas despontarem timidamente. Que a Ag.nes do futuro saiba voar antes de morrer soterrada na lama da medíocre idade. A dor de cabeça já faz parte do cotidiano e, entre remédios e soros, cozinho do que as expectativas comem. O algo dentro de mim me questiona ininterruptamente "já posso ir embora?". Seguro suas frágeis mãos e as lágrimas me regam enquanto lhe digo que ainda não. Suplico para que ele aguente mais um pouco. Vou ao banheiro, lavo o rosto, retoco a maquiagem e, por fim, ensaio o sorriso que usarei ao longo do dia. Quero Diu ou alguém em que em possa deixa algo sair de verdadeiro, nem que seja o silêncio. Espero que algo não morra enquanto seguro firma as rédeas da vida. Vida esta que passa e eu não saio para brincar com ela. Alterno entre dentro da armadura do trabalho e nua na cama de algum desconhecido. "Truly, you know you don't have to be in love to make love to me".

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Pesos cotidianos

Pergunto-me, entre mordidas no canto da boca, como podem os menores pesos juntos pesarem tanto. Ontem, antes de dormir pensei em algo bonito que quase me lembro, mas some quando tento olhá-lo de frente, saber sua forma, ler o que significa. Dos sonhos que levo, já não coloco água em quase nenhum. Fui dos megalomaníacos sobre doutorado e casamento para não pedir demissão no final do da, ou não chorar até dormir - realidade quase cotidiana. Algumas pessoas entraram na minha vida no final de dezembro e início de janeiro, outras saíram e as melhores ficaram, não sei por quanto tempo aguentarão. Jo John foi uma daquelas que entrou, provou da saliva doce da amizade e decidiu ficar. Velho amigo de meu irmão, ele me confessou depois de algumas horas de conversa fiada que me conhecia mais jovem, com calça jeans e blusa sem sutiã. Achei engraçado como penso que sempre fui assim, com esse corpo, essa voz e esse olhar, mas Jo John me garante que eu era outra, cabelos mais curtos e sorriso mais fácil. B. também veio me ver. Eu me lembrava dele de outra forma, com uma certa vida no olhar que está se apagando lentamente. B. me fez sentir coisas já esquecidas e aprender coisas novas. Ele propôs mais uma definição sobre mim (meu dicionário sempre em transformação): Ag.nes (subst. neutro) -  palavras  em forma  humana. Qualidades positivas e negativas unidas para sempre. B. se foi antes mesmo do ano acabar, um encontro, algumas ligações e foi isso. Para mim, B. é a estrela cadente para a qual eu pedi pra encontrar B., ele é o agente e o objeto, ele agiu e sofreu a ação. B., se você tivesse a chance de tirar foto de uma estrela cadente enquanto faz todos os pedidos mais secretos do seu coração, você tiraria a foto? Seus olhos sob aquela luz amarela ficaram tão lindos, quis tirar a foto, mas paralisei, decidi que guardaria todos os detalhes para sempre. E, hoje, quando minha vontade é de ir embora sem olhar para trás, fecho os olhos e revivo a luz, suas mãos nas minhas, a conversa que embala sonhos milenares e seus olhos castanhos, como a tempestade que sinto se aproximar, mas nunca me molha. Estou esperando para chegar minha vez de me molhar na sua tempestade, de consumir e ser consumida. B. evoluiu também no meu dicionário, de Astro Rei, Apolo em sua carruagem, ele também agora ilumina as noites escuras com um rasgo no ceu, tão instantâneo e mágico quanto a estrela que cai do firmamento.
2018 começou e não fiz promessa alguma, apaguei a loucura das expectativas, enterrei os dois pés no chão, mas não foi suficiente. O universo decidiu por mim e eu aceitei cada termo. Os pesos cotidianos agora se mostram como realmente são e descubro, em minhas mãos pensas, a força para speak my mind, senão no trabalho, na vida que realmente importa. Então, já percebi algumas coisas diferentes, segue a lista. 1. passei em frente à Pindurama e não quis entrar, olhar lá dentro, ligar ou comprar livros, me esqueci, por alguns segundos, que foi ali que te amei, que fui amada e que descobri como o Amor se parece; 2. ri, por algum tempo, das mensagens que te mandei no Face - como eu era maluca, meu Deus! (temo duas coisas aqui: ver daqui a alguns anos que agora estou maluca e chegar um dia em que não terei mais maluquice nenhuma e minha vida se tornará igual a de milhares de pessoas - quero que a loucura muda, não que me torne sã); 3. dei uma chance para a minha frágil felicidade nas aulas de pole dance, espero conseguir; 4. esse ano está muito difícil porque desde o dia 03/01 que estou trabalhando e, pela primeira vez, não tive 1 mês de férias, não viajei para Ilheus, não cansei de dormir; 5. o meu trabalho é chato, mas deve ser feito com dedicação, a máxima não faz mais sentido, pagando bem, há mal também. O mais importante, eu acho, é que os posts não são mais direcionados para Diu, mas para a A. do futuro, que lerá feliz ou triste o que esta A. escreve agora, espero que a A. do futuro esteja mais feliz do que estou agora, mas descansada, com alguma esperança que seja e, pelo menos, 2 bons amigos. O universo tem sido gentil comigo, espero retribuir a gentileza com carinho.