Foi com um susto que ela acordou de madrugada. Uma lágrima escorria enquanto ela tentava distinguir entre realidade e sonho, preferindo o sonho. Nele, alguma coisa de muito ruim acontecia e ela, aos prantos, tentava se explicar. Foi nessa hora, com uma dor insuportável no peito, que ela acordou. Uma palavra ressoava longe nos seus ouvidos. Estava difícil dizer se ainda estava lá ou livre. Livre onde? Se seu quarto estava escuro, sua cama meio vazia. Sorriu. Sua psicóloga lhe diria da incógnita do copo. Os olhos agora viam, sem aquela penugem dos que voltam de suas mentes, que a luz da janela era rosa. Deve ser bem de madrugada, pensou, não vou nem olhar as horas para não acabar com a magia. Sentada, com as pernas esticadas, ela enxugou com surpresa, as lágrimas que ainda caíam. Devia estar sofrendo muito no sonho. O que me disseram para eu ter desejado fugir para o mundo real? Aqui está melhor do que lá, com certeza. Ela passou a mão pelos lençois. Frios, constatou. Só agora percebera que respirava pouco. Suspirou profundamente. Percebeu que ia pensar nele e, imediatamente, se levantou, cantarolou Belchior e foi beber água. As pernas falharam, no começo, o que a fez lembrar de quando levantava da cama para buscar água depois do amor. Ele ficava na cama, deitado com as mãos sob a cabeça. Tudo em sua casa lhe parecia estranho, vindo de um outro lugar mais distante e antigo. Em alguma janela, uma brecha deixava assobiar o vento, mas ela não sabia qual. Nessa atmosfera rósea, fria e solitária, ela se sentou à mesa, enquanto bebia lentamente seu copo d'água, e deixou que mais uma ou catorze lágrimas escorressem. Se sentia falta dele? Era óbvio que sim, mas o que poderia fazer para convencer o amor de sua vida que ela valia a pena? Se ele precisava ser convencido, então, nada daquilo valia a pena. Seus pensamentos vagavam entre sonho e realidade, entre suspiros, ela decidira chamar essa nova fase de liberdade, ao invés de solidão. Quis sorrir, mas estava sonolenta demais para conseguir. Encostou a cabeça sobre a mesa, numa blusa de frio ali esquecida há semanas e só acordou quando seu celular despertou às 6h10 da manhã. Dolorida, ao abrir os olhos, escutou com clareza a palavra que lhe assombrara na noite anterior: Mountak.
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