sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um fato e algumas Conclusões


FATO: todos os anos, as lâmpadas dos postes são trocadas,por mais que estajam funcionando perfeitamente. Ano passado, como ocorre em muitos deles, havia um ninho entre a lâmpada e a proteção do poste. Quando esta foi retirada, o ninho caiu. A lâmpada foi trocada. Depois de alguns minutos, entretanto, duas andorinhas voavam alvoroçadas de um lado para o outro, dando rasantes e subindo alto, alto... Era o ninho delas que estava no chão. Além disso, era o ovinho delas que estava quebrado.

CONCLUSÃO 1: De que era feito o ninho, não me atentei, mas sabia que muitos daqueles gravetos vieram de longe, eram pesados e coloridos. Também sabia que o ninho é muito mais do que um porto seguro para onde se pode voltar todos os dias, é quente e possui o cheiro que todo lar de verdade tem: suor misturado com saliva, com lágrima, com farelo de comida. Quantos de nós sabemos ser ninho para o estranho que perambula ao nosso lado? (nossos pais, nossos amigos...) Quantos o querem ser, mas não sabem como sê-lo? DICA: precisa-se de gravetos de muitos lugares diferentes; de muita saliva para colocá-los juntos e sem brechas, por onde o frio não mais entrará; de um lugar seguro para que, quem veio, possa voltar sem erro e para que, quem virá, chegue transbordante por não ter errado o caminho. Mas ser ninho não é apenas construir um comôdo no peito e dizer "há vagas", tem de mostrar o coração pulsando, oferecer um pouco de seu próprio sangue e não desistir jamais daquele que veio sem saber como pedir ajuda. É essa a diferença de um ninho bom para um não-tão-bom-assim: saber sofrer junto, saber carregar a mesma dor pelo tempo que for necessário, saber amar sem pedir amor, cuidar sem querer cuidado... CUIDADO: não confundir ninho com porto. O ninho é caloroso e sempre dá vontade de voltar quando estamos longe, tem nossos gostos espalhados por cada pedacinho e nunca nos sentimos sós, e sentimos tanta paz que não sabemos se dormimos ou choramos de alegria. O porto é frio e indeferente, recebe a todos da mesma forma e nunca se deixa mudar por quem passa. Os ninhos não-tão-bons-assim tendem a se tornar portos ao passar do tempo, por inexperiência ou frustração, quem sabe?

CONCLUSÃO 2: não devemos temer a queda, pois somente nós mesmos podemos nos derrubar, da mesma forma que somente nós podemos nos fazer do melhor que a vida oferece, para darmos o melhor àqueles que nada tem. Quem escolhe ser ninho deve ter sempre em mente que o trabalho não cessa, que há de se ter em mãos, a qualquer hora, palavras de consolo e de exortação, de carinho e de bronca, que nossos lábios não proferirão, em tempo algum,  injúria, nem nosso olhar será  indiferente ou cruel (por mais odiosas que sejam as palavras de quem veio até nós), que nosso coração olhará na alma do outro e compreenderá sua dor, escolhendo o amor à raiva. CUIDADO: ser ninho não significa ser ingênuo. Temos que tomar cuidado com aqueles maquinam nossa queda. 

CONCLUSÃO 3: Da mesma forma como as andorinhas voavam e revoavam sobre o ninho caído, quem decide ser ninho não pode desistir daquele que cai, que sofre, que jura a morte a todo instante. Se houvesse uma regra única seria: NUNCA DESISTA DE QUEM SOFRE. Pois somos o abrigo, mas também o abrigado, somos a força do fraco, mas nos alimentamos na força de alguém mais forte. A lém disso, não sabemso quando seremos derrubados, por isso ensinamos os outros a construir ninhos dentro de si, para serem fortes os que, um dia, foram fracos, para nos acolherem na nossa fraqueza de seres humanos.  

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