Essa semana, meu querido governador R. anunciou a posse de 632 professores. Aguardo a minha vez. Esterei na próxima listagem. Ficarei livre dessa prisão, que os meus pares chamam "trabalho". Estou cansada. Mentalmente. Fisicamente. Emocionalmente. Quero dormir, não mais para esquecer, mas para criar um outro universo em que Ag.nes seja Outra, também. Meus pés seguem o ritmo imposto, minha mente se silencia e obedece melhor, mas há algo que reluta, que faz retardar o gesto por alguns segundos. A esse algo ergo taça e faço o brinde. Em minha mesa, Charlie Brown me faz companhia, doce lembrança de B. e dele escuto "ai, esse cachorro me lambeu!" ou "cabeção" e, por instantes sou transportada a outros lugares em tempos de felicidade desmedida, ao lado de B. Meu desejo de fuga aprofunda em mim suas raízes e já começo a pressentir as asas despontarem timidamente. Que a Ag.nes do futuro saiba voar antes de morrer soterrada na lama da medíocre idade. A dor de cabeça já faz parte do cotidiano e, entre remédios e soros, cozinho do que as expectativas comem. O algo dentro de mim me questiona ininterruptamente "já posso ir embora?". Seguro suas frágeis mãos e as lágrimas me regam enquanto lhe digo que ainda não. Suplico para que ele aguente mais um pouco. Vou ao banheiro, lavo o rosto, retoco a maquiagem e, por fim, ensaio o sorriso que usarei ao longo do dia. Quero Diu ou alguém em que em possa deixa algo sair de verdadeiro, nem que seja o silêncio. Espero que algo não morra enquanto seguro firma as rédeas da vida. Vida esta que passa e eu não saio para brincar com ela. Alterno entre dentro da armadura do trabalho e nua na cama de algum desconhecido. "Truly, you know you don't have to be in love to make love to me".
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