quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um sentimento de luto me completa aos poucos. The Smiths canta "let me get what I want this time, I hadn't had a dream in a long time, so for once in my life let me get what I want, God knows it will be the first time...", agora tudo se esvai, a poeira da ampulheta escorre entre meus dedos, a garrafa abandonada se quebra, a peteca cai em cima do telhado, assim, simplesmente, cada um dos presentes se vai e, por fim, não há mais nada que me lembre o que fui e sou esquecida. Todo o amor, todo o cuidado, se transformam em uma grande bola de fogo que sou obrigada a engolir sorria, sorria, me dizem aqueles por quem o sacrifício é feito. Mas eu não te pedi para fazer nada disso, é sempre a desculpa de quem realmente não me pediu que o fizesse, então, por que diabos o fiz? Para não ser esquecida, para que por um tempo fosse lembrada com carinho. Porque essa imensidão de amor que escolhi viver me engoliu os olhos, a mente, os pés e agora não sei mais qual a cor dos meus cabelos, das roupas que uso, do sorriso costurado no rosto - tenho rosto?, também não sei - não sei... meus pensamentos estão são confusos, minhas mãos tremem assim como minha voz. Não acredito mais naquilo que falo, não mais. Tudo em mim chacoalha como um prédio condenado que é implodido, de baixo para cima, me vejo desmoronar: meus restos de pés, meus joelhos fracos, minhas coxas flácidas, meus seios murchos, meu rosto indiferente. Estou de volta ao chão, o quanto pedi, meu Deus, para não voltar aqui, para não engolir a poeira daquilo que já fui eu!!... em vão... Deus me escuta... de novo ao chão, sem glória, sem força, sem paixão. Ao chão por Nada. Nada foi o nome que dei ao fiasco de amor que pensei ter vivido, estranho como se pode amar unilateralmente uma mesma pessoa por tanto tempo, ferida aberta no meu fígado, luz dos deuses que toquei. I hadn't had a dream in a long time... e quando pensei viver o melhor do sonho, me descobri no pesadelo da Alice, acredite, Alice, acredite. Inútil, não conseguirei matar o Jaguadarte, senão morrerei, somos os dois lados da mesma moeda. O pesadelo que desenhei e vivi enquanto esperava o sono vir, julgava ser sonho, entende? Mas não era. Pesadelo. Pesadelo. Amor. Ele me escorrega pela mão, tento de todas as formas fazê-lo ficar por mais alguns instantes, quem sabe se no segundo seguinte não o terei esquecido? Prezo sua individualidade e espaço, queria tê-lo como a um boto no Rio Amazonas, sabe-lo ali, lindo, sorridente, meu. Ele insiste em ir embora, em não mais voltar, em não mais ligar. Queria saber dizer vá com Deus, que você encontre alguém que te faça tão mal quanto você me fez. Mas só de olhá-lo, me perco em devaneios e sonhos pueris e percebo que é dessa pessoa que ele se cura em mim e em tantas outras que não saberia por onde começar. God knows... até quando? Noto em minhas mãos manchas de sol e estrias de posições intra-uterinas, elas tremem, temem, mentem, o que mais? Elas acariciam, massageiam, desvendam. Quem? Quem quiser, quem puder "pro que der e vier comigo, eu lhe prometo o sol se o sol sair e chuva se chuva cair..." Porque há dias de felicidade incontrolável e dias de tristeza sem fim, não importa como me desperte a claridade, precisarei de uma mão para segurar a minha, de uma boca que me beije doce e calmamente, de olhos que me vejam trocar de roupa devagar... ahh, se soubesse dos arroubos da paixão, não me teria doado totalmente, não me teria sonhado nem me jogado de tão alto, tão alto monte que subi. Apesar de ser ainda por causa desses arroubos incalculados e imprevisíveis que canto todos os dias. Saberia hoje ao menos me olhar no espelho e me ver sem o cara que tenho na cara, cara. "it will be the first time..."



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