Não sei se é porque está chuvoso o dia ou porque estou de férias, mas o Tempo se arrasta e eu me arrasto ao seu lado. Nossas mãos se enlaçam e se misturam na lama que nossas lágrimas criaram, estamos no chão. Sem dor ou lástima, nos jogamos com a precisão do jogador de esgrima: espadas ao chão, rostos na lama e nossas roupas alvejadas. Já não nos repudiamos, não brigamos nem descutimos o destino, já passou, já foi. O Tempo, às vezes, me agarra o cabelo e puxa, não vou, não quero perder isso também, não me desvencilharei da queda que me acorrenta e aperta. O Tempo puxa e chora, ao não largar aquilo que me faz mal, perdi tanta coisa e o Tempo geme. O que perdi? Belém Belém nunca mais 'tô de bem, até o ano que vem! O que perdi?! Não sei.
Não nos esgueiramos mais pela terra fétida. Nos sentamos à mesa e sorrimos, escondemos as mãos embaixo da toalha, porque nossas unhas se encardiram e não sai, é verdade, tentamos de tudo e continuam pretas as unhas. Ao gosto de vinho e alcaparras comemoramos nosso encontro, finalmente... Discutir tudo aquilo que não dissemos minha vida inteira e, nossa!, o Tempo passou rápido. Estou cansada e quero dormir. Ele sorri. Não, não quer não. Você quer repousar suas mãos nas mãos de outra pessoa e esta verá suas unhas sujas e não desejará mais estar ao seu lado. Fico. E como são doces os olhos daquele que nos envolve em mentiras e prazeres, como são doces os olhos negros e profundos do Tempo. Que nos sufoca e apressa. Corre, corre, corre... estou chegando e trago um velho amigo, corra! Morra! Fique! Que estou só e ninguém se volta para mim com qualquer verdadeiro sentimento.
Com minhas unhas encardidas e ensanguentadas, enforco o grito de desespero. Não há mais tempo, não há mais morte, somente eu e minha espada e duas outras mãos para limparem as minhas.
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