A bolha na ponta do dedo de apontar as estrelas no céu, a sombra do avião no chão, de limpar o restinho de iogurte no potinho de danone, dói muito. Um segundo de desatenção foi suficiente para que a queimadura ardesse latente e morna. A dor da bolha me diz que ainda sinto. Mas sinto o quê? Maior que a dor da bolha é a da indiferença, da falta de consideração. Entro de sala em sala até encontrar alguém que me ajude, que leia nos meus olhos a dor e me ajude. A cola quente grudada à pele não solta por nada, o medo é o da pele vir junto e só me sobrar o buraco fundo e a cicatriz eterna. Quis te contar tudo isso junto com a foto que te mandei, mas o dia tinha sido corrido, não nos vemos e mal falamos. Deixa quieto. Mais uma pedra que poderia ser usada na construção da ponte que nos uniria finalmente, mais uma pedra deixada de lado, mais uma gotinha para a taça de mágoa quase transbordante. Me lembro do verso que diz "quando o amor se torna mágoa nunca passa a aflição" e ele nunca fez tanto sentido. Se te amo? Claro! Talvez você seja a última pessoa que amarei, a quem me doarei e apostarei todas as minhas fichas, mas não sei mais se você me aceita. Tão ocupado, um verdadeiro adulto sério, que não vê nem a cobra, nem o elefante, muito menos o chapéu, que passa os dias com sua calculadora somando as dívidas, acendendo e apagando sem cessar o lampião da única rua chamada Vida, sem perceber que a cada segundo somos Outros, transformados e passageiros. Me sinto tão sozinha o dia inteiro, anseio seu par de olhos sobre mim para eu poder tirar minhas máscaras, me aliviar das pressões cotidianas e conversar sobre o que realmente importa, deitados na rede ou na cama. Estar com você, poder ser quem sou e costurarmos calmamente nossos elefantes com suas estopas refeitas é o que quero para os meus dias, mas fica claro que suas prioridades são outras e eu não estou entre elas. O que posso fazer? Retiro minhas expectativas e sonhos, limito meus planos, espero o pior de você (como do resto do mundo) e me fecho para que o seu desdém não me machuque mais. Se não posso baixar a guarda ao seu lado o que ainda estou fazendo ao seu lado? Se sempre tenho que adequar o ritmo dos meus passos aos seus e se preciso perguntar o que você entendeu das nossas conversas, para desfazer todos os mal entendidos que você mal entendeu, por que ainda me preocupo em andar do seu lado e de me explicar? Se ao menos eu visse uma tentativa de mudança, mas nem tentar você tenta. Você se surpreende quando digo que a cada dia somos novas criaturas que não se banham na mesma água do rio, quando, para mim, esse é o fundamento para a beleza da vida. Somos tão diferentes e ainda assim te amo com tanta força, mas não sei se devo ficar. Quero ver as mágoas entornarem a taça e se espalharam em todo o meu ser ou devo me retirar enquanto há salvação para a minha alma e remédio para as minhas dores? Resta a pergunta: o que você quer de mim? Será que consigo me domesticar para caber nos seus sonhos tradicionais medianos? Conseguirei guardar minhas melhores partes para ser o que você espera de mim? E eu? Eu quero fazer tal sacrifício?
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