domingo, 30 de junho de 2019

Considerações

Vejo suas fotos, uma depois da outra até a primeira fatídica publicação. Dali tiro algumas leves conclusões sobre você, sobre mim, sobre a gente juntos. Você é do tipo nerd tímido (que tanto adoro), você viveu os momentos mais felizes da sua vida sem saber (hoje, entretanto, você sabe que aqueles foram os dias bons e que, de agora em diante, seu sorriso sempre terá uma sombra). Ainda tem algumas fotos de vocês dois juntos ou declarações de amor dela em quase tudo que você postou. É triste rever tudo isso? Quando me atentei para os comentários, tranquei meus sentimentos no alto da torre na vã tentativa de não sentir ciúmes do mundo que vocês tinham, da felicidade, do companheirismo. Eu olho para mim e não vejo nem a remota possibilidade de conseguir viver isso com você. Já não sei mais me entregar, nem sei se você quer... Não sei dizer "meu amor lindo" numa foto sua, nem curtir um churrasco em família tranquilamente. Sim, eu me comparo 24 h com a sua vida antiga e nada daquilo me representa. Eu não sei como você consegue. Chorei no seu colo, porque eu não consigo. Eu não sei mais me desprender das minhas feridas, dos meus medos, dos momentos ruins para me entregar a essa coisa mágica em sem forma que você me oferece. Parece bobo, mas já virou rotina eu ficar com raiva de alguma coisa e me afastar, ao invés de você tentar me alcançar, você me dá o espaço que eu pedi, sendo que não é o que quero. Eu preciso conversar com você sobre o meu passado para ver se ele pesa menos ou só para ouvir suas considerações, mas sua atenção está na TV. Eu desisto. Mais uma pedrinha que poderia ser usada na ponte que nos unirá desperdiçada. Você me diz que é feliz, feito de um feliz diferente do feliz de antes, e eu olho pra mim e só vejo feridas. Não, eu não sou feliz. Eu carrego o medo de não ser suficiente para ser Amada, eu tenho uma memória horrível, eu aprendi a não prestar atenção demais nas coisas ao meu redor para eu me machucar menos (com as mentiras, falsidades, covardias), eu tenho esse complexo de que serei abandonada ao menor erro, eu sou insegura em relação a tantas coisas, eu tenho muitos pesadelos com momentos da minha infância. Sabe, quando meu pai foi embora, minha mãe e irmã cochichavam o tempo todo, minha mãe chorava muito e, ao me aproximar, elas mudavam de assunto ou me mandavam sair dali. Então, eu sou muito desconfiada com as coisas boas que acontecem comigo, porque, um dia, tudo pode acabar sem ninguém me explicar o motivo. Eu posso acordar e estar sozinha, de novo. Eu te falo que a sua voz é importante e que quero te escutar, porque a minha voz só passou a ser ouvida depois de alguns anos de total silêncio castrador. Eu não quero que você passe por isso, então eu te digo o que eu gostaria de ter escutado de alguém. Eu te amo do jeito que eu gostaria de ter sido amada, antes de toda dor. Eu tento me lembrar do que eu precisava (afeto, carinho, respeito, compreensão, diálogo...) e nunca tive e te dou. Acho que é assim que eu te amo: gestos frágeis, voz macia e a necessidade de te fazer entender que, agora, você não precisa mais olhar sozinho se tem um monstro embaixo da cama. Talvez, para você tudo isso seja bobagem, coisas sem importância, mas, pra mim, é a forma de encontrei de cuidar do meu passado, da criança assustada que me olha de dentro. Você é o meio para minha cura interior, eu me perdoo, perdoo meus pais e meus irmãos quando eu te dou aquilo que eles nunca me deram. Mas, me desculpe, se não sei amar sua beleza, sua calma, seu mundo. Eu quero muito. Eu quero que você fique, eu quero que você me abrace abertado, eu quero que você não me dê o espaço, que você me busque na escola, que sua mão nunca solte a minha. Eu te amo!

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