"Ouvi-me", diz o Menino, "pois até das suas lembranças tenho sede". "Embebede-se do que restou do meu vinho, que é amargo e desce como fel, e coma minhas entranhas, que de melhor há no mundo." Re-escuto. Re-olho. Re-vivo. Enquanto o vejo comer e beber, parece-me, de repente, que se multiplicou, retumbante dentro de mim. Quando, Lua, terá fim esse banquete? Que quero dormir e tenho remorsos.
Ao re-pensar todo o percurso que trilhei, quis me deitar no chão frio, ou talvez no tão sonhado mausoléu de minha família, e lá ficar pelo tempo que dura a dor e a mágoa do auto-abandono. Por muitas vezes, neguei o sonho já às portas, escolhi ferir o Grandioso Sentimento, partir do lar já construído, deixando dores insondáveis e almas dilaceradas. Escolhi o outro caminho, e isso me dizia aquele Menino.
Do canto da mesa me olha olhos cinzas, famintos e intransigentes, eles me engolem, me chupam, me provam delicada e brutalmente, sou sua. Do momento em que escrevi meu nome e um telefone no guardanapo dado ao garçom, pertenço-te. Seus dentes estralam de aprovação e desejo, dentre eles me surge a úmida língua rubra, que passeia por lábios estranhos, limpando os cantos da boca, manchados do mau vinho que lhe ofereço. "O que mais você me dá?", ao redor, não há mais nada (muitos vieram antes dele e todos me exigiram tudo). "Olhe em volta, se algo lhe agradar, é teu." Meu fraco coração espera que alguma coisa, qualquer coisa, lhe chame atenção, para tê-lo por um segundo a mais, quem sabe. Meu fraco coração se enche de esperança e agonia. O Menino segura minhas mãos (será para sempre esse momento?), sorri vagamente e sussurra: "sua agonia me agrada. Quero toda, sofra mais e ficarei eternamente."
Mas, o que foi mesmo que me disseram as antigas musas que me habitavam antes da Queda? Não me lembro, sinto vazio e me vejo observada, preciso gerar agonia, dá-la ao Menino que segura minhas mãos e não me deixa levantar. Penso em coisas tristes, amantes deixados, filhos abortados, sonhos realizados e, assim, cresce aquilo de que preciso e alimento o Menino, que sorri de gozo.
Já não há forças, meus pés formigam e as pálpebras fecham. O Menino me sacode, grita meu nome, fica enfurecido e ameaça ir embora. Dou-lhe mais daquilo que me pede, sofro mais, morro por segundos e volto ao seu encontro doce e fatal. O rosto da última musa me sorri de seu abismo, quando fecho os olhos. O que dizem seus lábios frios e cálidos? Novamente sou acordada pelo Menino, o que ouço são os acessos de fúria.
Desfaleço, ele sabe que daqui em pouco não terei mais vida em mim que lhe pertença, então grita mais e me fere mais e me segura mais forte. Encosto a cabeça no chão, o mausoléu se aproxima, ao meu redor agora somente as mãos brancas das musas. Uma delas toca meu rosto: "O amor é outra coisa..." Perdão!
Do canto da mesa me olha olhos cinzas, famintos e intransigentes, eles me engolem, me chupam, me provam delicada e brutalmente, sou sua. Do momento em que escrevi meu nome e um telefone no guardanapo dado ao garçom, pertenço-te. Seus dentes estralam de aprovação e desejo, dentre eles me surge a úmida língua rubra, que passeia por lábios estranhos, limpando os cantos da boca, manchados do mau vinho que lhe ofereço. "O que mais você me dá?", ao redor, não há mais nada (muitos vieram antes dele e todos me exigiram tudo). "Olhe em volta, se algo lhe agradar, é teu." Meu fraco coração espera que alguma coisa, qualquer coisa, lhe chame atenção, para tê-lo por um segundo a mais, quem sabe. Meu fraco coração se enche de esperança e agonia. O Menino segura minhas mãos (será para sempre esse momento?), sorri vagamente e sussurra: "sua agonia me agrada. Quero toda, sofra mais e ficarei eternamente."
Mas, o que foi mesmo que me disseram as antigas musas que me habitavam antes da Queda? Não me lembro, sinto vazio e me vejo observada, preciso gerar agonia, dá-la ao Menino que segura minhas mãos e não me deixa levantar. Penso em coisas tristes, amantes deixados, filhos abortados, sonhos realizados e, assim, cresce aquilo de que preciso e alimento o Menino, que sorri de gozo.
Já não há forças, meus pés formigam e as pálpebras fecham. O Menino me sacode, grita meu nome, fica enfurecido e ameaça ir embora. Dou-lhe mais daquilo que me pede, sofro mais, morro por segundos e volto ao seu encontro doce e fatal. O rosto da última musa me sorri de seu abismo, quando fecho os olhos. O que dizem seus lábios frios e cálidos? Novamente sou acordada pelo Menino, o que ouço são os acessos de fúria.
Desfaleço, ele sabe que daqui em pouco não terei mais vida em mim que lhe pertença, então grita mais e me fere mais e me segura mais forte. Encosto a cabeça no chão, o mausoléu se aproxima, ao meu redor agora somente as mãos brancas das musas. Uma delas toca meu rosto: "O amor é outra coisa..." Perdão!
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