Minha vó costumava me dizer tantas coisas quando menina, que, quando ela se cansou de tudo e se foi, me senti oca. Não sei como minha mãe e tios se sentiram, mas eu era oca desde aquele dia. Meu amigo diluvia cotidianamente, pois sua vó não lhe contava segredos do mundo - esses que, às vezes, a Morte nos sussurra instantes antes de a vela ser assoprada.
Ela me contava como os lábios se apertam para o segredo não escapar, e os olhos se arregalam e as mãos tremem frente ao espelho. O que terá do outro lado, minha filha? Ou, quantos de nós conseguem aparecer do outro lado ao mesmo tempo? Brincamos, então, de fechar os olhos e sonhar os contornos daquele abismo medal, daquela cicatriz frágil, frágil - a qualquer hora, ele quebra, sabe, temos que vigiar de perto, filha. Vigiei, tanto vigiei, que o sei de cor e dó.
Se não era esoterismo, o beirava. Talvez, fosse apenas a vontade de falar, palavras soltas, por mim colhidas, guardadas e decoradas. Me dizia: se sentir medo clama à Deus, nosso Senhor, que te proteje. E se não funcionar, lhe perguntava aflita e tímida. Então, abraça o que de doce há e torça para não ser o Mal Maior, a Loucura.
Minha vó me diz o que quero, minha vó sou eu, e eu ela. Somos o que quisermos, o que vimos naquele espelho trincado foi a Revelação Mortal - ou Divina?
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