Quero escrever tristezas. Exorcizá-las por completo de mim. Quero voltar a ser inteira em você, amor. Por isso, te conto mágoas e feridas podres, sempre pedindo perdão pelas flores decompostas e pela casa bagunçada. No chão roupas-jogadas, devemos ter cautela, afinal, o fio da meia-calça pode puxar e já não distingo mais o que é novo e o que é memória... E o que volta não é apenas o que nunca foi? Alguns dias tenho nuvens cinzas com trovoadas que me assustam e me fazem crescer, outros, sinto seu cheiro no balão verde que enfeita meu quarto, e me alegro.
Quando te vejo dormir em meu colo, sua respiração e seu peso, desejo constantemente morrer naquele momento único de plena felicidade, então você acorda e, me olhando, sorri - meu Deus! ainda bem que não morri há alguns segundos, porque a felicidade é agora..- penso sempre pasma. E se me entrego assim não é porque você me segura a mão firme, ou porque sua risada faz eu me sentir uma pessoa melhor, é pelo simples momento da sua vida que você escolheu compartilhar comigo. Eu sei que posso falar de livros com você, de músicas estranhas e de tradutores que ninguém conhece e você me ouve, o que passa pela sua mente nessas horas? Quero tanto te ver... quero passar a hora dos mágicos cansaços ao lado, para sempre... quero esquecer as noites de medo infinito e de desesperança.
A primeira tristeza é a do caminho solitário que trilhei até aqui. Costumava olhar ao meu redor sem ver pessoa que estivesse ao meu lado. Não digo que era ruim, era triste. Minha solidão é daquelas que veste colorido e que ouve Caetano, mas sempre em silêncio. E seu olhar, bem é tão distante quanto a linha do horizonte do céu e do mar. É triste. A mão vazia acompanhando o corpo. Os olhos vazados olhando para dentro.
Percebo agora com certo espanto que as outras tristezas se acomodam perfeitamente na primeira. Quando surgir mais alguma, aviso sem demora!
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