Tem sido um ano longo, muito longo, para tão poucas alegrias e comoções, mas quando essas acontecem, meu Deus!, como ficam felizes os meus olhos e como é fácil sorrir novamente... Há tempos não digo nada que cause prazer ou dor, caro amigo, e mesmo assim, sinto como se tudo estivesse exposto com notas explicativas no mural do meu velho coração. Engraçado, tenho olhos cansados e um coração velho, o que mais posso querer? É mesmo, me faltam mãos trêmulas para que o que for pesado no chão caia e nunca mais volte a ocupar o espaço oco das mãos.
Não espere que dos meus olhos tropecem lágrimas desordeiras e embriagadas de dor. O ano chega ao seu fim, mas meu peito de pedra que nada sente e nada ama não se permite se desprender de seu musgo, tão caro e raro. Mas o outro, o que morre e chora, tem nome, Madeleine Wallace, e sussurra, hoje, melodias fúnebres e fados desengranhados. Meu peito duro nada sabe da certeza aguda que me aponta nos rins e sobe, sobe, até a boca de que serei feliz, um dia; de que realizarei milhões de pequeninos sonhos outra vez. E só.
Não me explicaram o que buscar depois da felicidade, você sabe? Temo haver um abismo, como nas piores previsões de Colombo, entre mim e a Terra Prometida, pois pode haver monstros devoradores de almas e dragões que cospem diamantes. E o que será de mim, sozinha novamente?
A insônia se senta ao meu lado na cama, tento ignorá-la, mas as coisas que, de madrugada, segreda me fazem pensar se não seria melhor entrar em coma ou dormir de uma vez por todas, pois são terríveis os amores fracassados e os corações partidos em mil...
Espero do ano que vem que eu viva de doces mentiras...
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