sexta-feira, 23 de março de 2018

Ainda você, mas não só

Ainda falo de você. A mínima possibilidade de te encontrar, seja na livraria ou na UnB, já transforma o meu dia. Recontei o sonho das mandalas e a única conversa sincera que tivemos. Te dou cheiros, sons e formas que em nada condizem com você. Eu te amo. Queria ter-te dito isso desde a primeira vez, mas não consegui. Queria ter fugido, e algo no seu olhar me prendeu para sempre. Você sou eu? O que é mesmo que eu venero em você? Seu olhar presente, a voz pouca, mas certeira, o cheiro da pele, do gozo, do cabelo. Gosto também do sentimento de casa, da trilha sonora que acompanha meus passos rumo aos seus, de como não sinto medo quando estou ao seu lado.
Hoje minha mãe viaja. Ficarei meses sem ve-la, na comunicação fútil do telefone. Eu queria que ela soubesse que a amo, mas não digo. A ferida ainda existe. A dor se tornou mágoa, nunca passa a aflição. Apesar de saber que não a encontrarei por algum tempo, apesar de saber que ela deseja ser amada e aceita (quem nao deseja a mesma coisa?), apesar de os olhos dela me darem vontade de chorar, não disse a ela que a amava. Tentei. Telefonei. Mas não consegui. As brigas nunca desataram o nó de família, nunca me fizeram duvidar que eu poderia contar com ela. Mas as palavras dela cravaram suas garras fundo em mim e, ao vê--la, cismo nas cicatrizes. Não quero que seja tarde demais. Não quero chorar sobre uma cova todo o amor tão mal escondido. Quando ela mandar notícias, direi ao final: te amo muito, mamae.
Querido Diu, será que amo o nosso trajeto mais do que a você? Seu humor pesado, o olhar que não pisca, a certeza de que o amor estava lá ao lado do medo. Suas roupas pretas, a fotografia dentro da caixa, o sorvete ao lado de casa, as mensagens de madrugada, eu acompanhada no mundo. Creio ser esse o ponto inflexível: eu era sozinha antes de voce e agora desejo companhia a qualquer custo. Antes sol do que mal iluminada, não é mesmo? O Laranja Psicodélica espera nossos downloads, eu espero os convites para filme de madrugada, eu te espero. A cada dia me torno o que mais temia: a pessoa que espera ansiosa ao lado do telefone por alguém que vive a vida e esquece de carregar a bateria do celular; a pessoa que tem como noite ideal uma cama, uma coberta, sushi e televisao; a louca que ri sozinha na rua (a loucura sempre me atraiu profundamente, será que terei esse privilégio?); a pessoa que trabalha todos os dias atea exaustão e espera o final de semana para viver; alguém que sofre de amor pelo resto da vida; a pessoa que mente fantasias por não ter vivido nada; a pessoa fracassada (no mestrado, nas amizades, no pensamento constante, no Amor). Diu, eu te/me pergunto: o que há de errado em mim? Você me chama de "mulher espetacular", mas não me quer por perto. 
O que da minha sombra espelho em você e persigo incansável? O que em mim, projetei em você a ponto de nunca te deixar ir, porque senão não verei mais meu reflexo na janela do metrô?
Querida Agnes, seu silêncio e seu olhar perdido me fazem te dar meu reino por apenas um dos seus pensamentos. Seus cabelos ao vento me lembram Caetano, leãozinha. Sua risada desesperada enquanto te deito na cama (era medo de cair) não me brocham nem afetam minha masculinidade, mas me fazem a pessoa mais feliz do mundo. Quando você pula de alegria ao ver algum amigo na rua, me lembra de quando você corre e pula no colo do boy (ele ria e te segurava, mas teve outro que te rodou por minutos eternos pela primeira vez). Querida Agnes, você concorda que querer sexos especiais é burrice quando, na vida, você terá tantos sexos não especiais? Creio que não. Os seus sexos especiais estão muito bem guardados no comboio de cordas. Por fim, siga o conselho de Vanessa Yves, "be true".

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