Te ver. Andar na sua direção, sentir o
coração bater bem devagar para captar todos os seus movimentos. Chegar perto,
seus olhos agora tão mais claros, seu rosto do jeito que deixei. Sinto seu
calor através do meu vestido e minha pele queima. A necessidade de fugir
imediatamente se opõe ao prazer da dor. Não entendo seus sinais, nenhum deles. Sou
cega no que se refere à você e a muitas outras coisas, mas especialmente à
você. Era para ser você, mas tive pressa e me joguei em qualquer um que viesse
primeiro. Sou sua. Tudo gira tão rápido que nem me lembro da última vez que te
vi nu. Me lembro das suas mãos e dos raros momentos em que você me permitia te
tocar, me lembro do seu sexo suave e firme que me arrancava o ar, me lembro das
tragédias e crueldades que me faziam jurar nunca mais voltar (e quando estava
no portão, olhava para trás e eu já desejava tudo outra vez). Não sei dançar
tudo o que você sabe, nunca nos encontraremos nalgum show, não consigo amar
devagar, eu dilacero, mordo, rasgo, sangro e sofro.
Eu sei que meu amor não te serve, que
sirvo à mesa um prato que te repulsa e mesmo assim o repito ritualisticamente,
não mais para você, deus profano, mas para mim, sibila desvairada, pois se
ainda te sirvo é porque acredito em você, porque tenho de onde tirar tal
horrendo sentimento para dar-te.
Você me leva a passear por entre sofás e
bebedouros, varandas e estacionamentos, lanchonetes e estradas e eu vou, como
um cachorrinho, porque ali (onde ali for) estou em paz. Se espero demais da
situação e te obrigo a nunca, nunca, dizer aquilo que quer, é só porque te
espero desde a terna idade e me desespero em pensar em te perder, em te ver ao
lado de outra pessoa. Se te obrigo a ficar atento a tudo o que fará e dirá a
mim para não me dar falsas esperanças ou para não brincar comigo, se te obrigo
a ser o que não é, a ser somente irônico ou materialista, é porque morreria de
felicidade se a caso me quisesse. Morreria.
Meus olhos dançam em você, foi o que me
disseram sexta à noite, meus olhos não perdem nada de você. Tudo guardo, tudo
recordo, para os dias de frio e neve na pobre cabana que chamo de corpo, para
poder sorrir, para ter forças. Sei que algum dia me perguntará ainda: quais as
novidades? Então, terei mil novas vidas para te relatar, no cargo mesmo de
Marco Polo, meu doce deus profano.
Não se vá. Deixe-me orbitar no seu
sistema solar. Deixe-me aquecer as mãos e a alma no fogo morto que carrega no
seu peito aberto, comido por dentes vorazes, que assim como os meus, não
souberam apenas beijar.
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